sábado, 13 de junho de 2009

Marrocos II (Abril 2009)

De volta a Marrocos… era inevitável pois é um país muito interessante, diversificado e aqui tão perto!
O sistema foi o mesmo: malas no carro, direito a Algeciras, passar o ferry para Ceuta e fazer toda a viagem de carro em solo marroquino. Mas desta vez optei pelo interior e não tanto pela costa. E optei muito bem pois o interior é muito mais característico e preservado, com muitos e variados pontos de interesse. Saímos de Samora Correia perto das 4 h da manha e apanhámos o ferry para Ceuta às 10:30 (comprámos o bilhete no site da ferries Acciona ou directferries e quando chegámos foi mais fácil pois é só dizer aos orientadores que já temos bilhete e vamos logo para o embarque).
O problema foi mesmo na fronteira para entrar em Marrocos. Era 6ª feira santa e a quantidade de turistas (franceses e espanhóis) era assustadora. Ignorem os aproveitadores que vão surgindo a dizer que facilitam o processo. Um de nós fica ao volante e outro vai a pé aos guichets pedir 1º o formulário para as pessoas e depois para o carro. A demora e ineficiência são enervantes e na confusão daquele dia custou-nos 2 horas e algumas irritações. Vão preparados e sempre à espera destas “chatices”. Já do outro lado verifiquei que as coisas estavam mais desenvolvidas e as estradas bem melhores e sinalizadas. Passámos em Tetouan (nada interessante) e rumámos até Chefchouan para ficar uma noite. Esta vila é muito bonita e turística, com as suas casas caiadas de branco e azul e as suas ruas estreitas. É sem dúvida o local ideal para o primeiro ambientar com Marrocos pois o restante país pode causar algum choque a quem nunca visitou um destes países com uma cultura tão diferente e bem mais pobre que a Europa.




















Há que ignorar os pseudo-guias que vão surgindo em motos ou a pé indicando um hotel ou uma loja para visitar. Não é que seja perigoso ou que nos vão fazer mal ou roubar mas normalmente os locais apontados não são os melhores e eles só querem ganhar algum. Por acaso quando cheguei a esta cidade não tinha hotel marcado e os que levava apontados estavam todos cheios e tive mesmo que recorrer a um destes “guias”, que acabou por me safar. Ficámos no Hotel Rif por um preço acessível de 25 euros o quarto. O dono queria ficar com os nossos passaportes durante a estadia mas negámos sempre pois além de ser o documento mais importante e necessário para poderes sair do país, poderiam ser alvo de falsificações… nem que paguem o quarto em adiantado mas nunca se separem deles! Nesse dia ainda deu para percorrer grande parte das ruelas e jantar num dos muitos restaurantes da praça central junto à muralha.




















No dia seguinte pela manhã seguimos para Fez. Pelo caminho passámos por uma aldeia onde decorria um mercado local e não hesitámos em parar e visitar. São excelentes oportunidades para contactar com as pessoas e o modo de vida local.
Já em Fez foi de novo bastante difícil encontrar um hotel vago e acabámos por pagar cerca de 40 euros/noite. Fez é como que uma antiga capital cultural de Marrocos pois é verdadeiramente antiga mas muito rica a nível cultural. A sua Medina (zona comercial de ruas estreitas) é das mais antigas do mundo árabe e parece que caminhamos na eritreia ou na antiga Jerusalém.
















No entanto é um autêntico labirinto e só se tivermos todo o dia disponível podemos arriscar sozinhos pelas ruelas estreitas, ainda que nunca nos devemos afastar das ruas mais movimentadas. Caso não estejamos tão à vontade ou com menos tempo que o necessário devemos contratar um guia no próprio hotel. Mesmo que seja um pouco mais caro pelo menos podemos pedir satisfações se não gostarmos do serviço. No nosso caso contratámos um guia na rua e foi péssimo pois a meio passou-nos para outro tipo mais velho que corria desenfreado pelas ruas, sem tempo para apreciarmos a Medina, não explicou nada e só estava interessado em que fossemos jantar ao seu restaurante (que por acaso era bom mas caríssimo). São muitos os artífices e artesãos em Fez. Fomos ainda a um terraço mesmo no centro da Medina, para podermos ver as tinturarias (Alcaçarias) das peles e os seus famosos tanques de várias cores como chegou a mostrar numa novela brasileira muito famosa. Atenção que o cheiro é muito forte e desagradável.

Visitámos também uma fabrica de cerâmica onde a variedade e qualidade são elevadas mas os preços são muito superiores aos preços do mercado de rua. Não compensa muito! Fomos ainda ao cimo da colina nos arredores com o seu castelo e os túmulos merinidas onde pudemos apreciar a vista sobre a cidade e sacar umas boas fotos. Destaque ainda para o museu de armas, o museu Dar el-Batha e as Medersas.
De Fez partimos ainda mais para o interior, direitos ao deserto (o percurso foi Ifrane, Azrou, Midelt, Er-Rachidia, ErFoud, Mezouga). A paisagem que vamos atravessando é lindíssima, com os seus desfiladeiros áridos e com os oásis refrescantes que vão acompanhando os rios ao longo do caminho. As pequenas localidades que vão surgindo são encantadoras, aldeias do deserto com as ruas barrentas e Kasbahs imponentes. O modo de vida é do mais simples que podemos imaginar, as pessoas vivem da agricultura e da criação dos animais. O burro ainda é um dos meios de transporte e carga mais utilizados.


















As estradas são boas, mesmo estas vias do interior quase desértico. Cuidado apenas para alguns grandes buracos que surgem de repente e podem causar danos graves no carro. Pelo caminho também é relativamente fácil encontrarmos bombas de abastecimento mas é importante ter sempre o depósito cheio. De relembrar que, no Inverno, algumas destas estradas podem estar intransitáveis devido a chuvas ou mesmo neve nas zonas mais altas.
Para as refeições levámos uma geleira, enlatados e queijo e fazíamos uns pic-nics nos oásis pois cafés, mercados, restaurantes são praticamente inexistentes pelo caminho. É preciso algum cuidado pois debaixo de uma pedra encontrámos um grande escorpião. Grande susto!















Ao jantar estávamos normalmente em locais mais movimentados e existem sempre muitos restaurantes. A cozinha não é muito variada e resume-se muito ao couscous (como um bom cozido à portuguesa mas com uma massa granulada), as tagines de frango (um refogado saboroso cozinhado num tipico recipiente de barro) ou as bruchettes (pequenas espetadas grelhadas sem grandes molhos ou temperos). Nos locais mais turísticos até podemos comer uma pizza, um bife, massa ou hamburguer.















Chegados a Merzuga, as ofertas de alojamento são muitas e de vários preços. Entrámos na vila e fizemos a estrada até ao fim sem voltar para qualquer lado. Esta estrada termina no próprio deserto, e mesmo a “beijar” as dunas temos 2 hotéis: o da direita é mais simples com WC compartilhado, o da esquerda é muito recente, moderno, limpo e simpático. Tem um pátio interior muito giro e tradicional onde tomamos as nossas refeições e um terraço onde podemos beber um chá, contemplar o incrível céu estrelado e ouvir um conjunto de músicos berberes. Um verdadeiro achado pois não passava os 30 euros por noite. Partindo de Erfoud, Merzuga é ultima aldeia antes de entrarmos no “puro” deserto e é óptima para explorar os seus trilhos.






















Podemos também fazer um passeio de camelo de 3 horas (10 euros/pessoa) pelas dunas, um dia inteiro ou ainda uma mini-expedição de 2 dias e uma noite a dormir em tendas em pleno deserto.





























No dia seguinte partimos para Marraquexe. É preciso ir quase de madrugada se queremos chegar no próprio dia. A paisagem continua fantástica e até é fácil avistar camelos a atravessar as extensas planícies. Pelo caminho parámos num pequeno Kasbah, residência fortificada com pátio central, com local para guardar o gado e vários quartos para toda a família. Com muita calma convencemos os moradores a poder entrar e poder fotografar. Como agradecimento oferecemos alguns brinquedos que tínhamos levado, umas bolachas e uma t-shirt.



























Ainda antes de chegar a Marraquexe não podemos perder uma visita à aldeia de Ait-Benhaddou (Património Mundial da Unesco). Esta aldeia já apareceu em alguns filmes e está muito bem conservada. É toda em barro e as suas ruas estreitas escondem muitas surpresas e muitos pormenores interessantes. Não é preciso guia para visitar a aldeia e basta deixar o carro na pequena localidade do outro lado do rio (há várias hipóteses de alojamento aqui e também há Ouazarzate que fica a cerca de 15-20 kms). Normalmente este rio é muito baixo e com pouca corrente e podemos atravessá-lo a pé. Existem alguns nativos bastante chatos a tentar ajudar, em troca de dinheiro, claro! Há que recusar educadamente, prosseguir caminho e não dar muita conversa.





























O restante caminho que falta até Marraquexe é muito duro. São cerca de 150kms mas com muitas curvas apertadas para podermos atravessar as sinuosas montanhas. A meio do caminho passamos pelo desfiladeiro de Tizi-n-Tichka, que é de cortar a respiração!
Já na grande cidade de Marraquexe, arranjar alojamento não é tão fácil! Os bons hotéis estão essencialmente nas avenidas novas (p.ex. Ave. Mohammed V) mas não são nada baratos para o país (acima de 50-60 euros um hotel de 3 estrelas). Junto à Praça Jemaa el-Fna e à Medina temos mais hotéis, mais baratos mas mais antigos e alguns sem grandes condições. Os pontos de interesse de Marraquexe são os mais que conhecidos e apresentados em qualquer guia: Praça Jemaa el-Fna, Mesquita Koutoubia, a Medina, o Bairro Judeu, a Medersa Ben Youssef, o Museu de Marraquexe, etc. Estes 2 ultimos valem bem a visita pois ajudam-nos a compreender melhor a cidade, a sua história e mesmo o resto do país. O ex-libris da cidade é sem duvida a Praça Jemma el-Fna. Mais turística e menos natural que outros tempos ainda é um ponto de convergência das várias culturas do deserto sub-sahariano e povos berberes. Vende-se de tudo nos mercados e bancas circundantes, até dentaduras postiças e dentes usados!!! Temos ainda os encantadores de serpentes, os aguadeiros, as videntes, os faquires, os macacos amestrados. É óbvio que vão sempre extorquir-nos algum dinheiro, nem que seja só pela foto e é muito importante não perder a noção de quando vale o dirham em euros. Também é preciso ter algum cuidado com carteiristas quando se encostam a nós com as suas manhas. De qualquer forma a praça até é bem vigiada e existem bastantes policias. À noite a praça ganha ainda mais vida e temos restaurantes “móveis” por todo lado bem como alguns artistas, comerciantes e outros. Há que subir a um dos terraços de um café ou bar circundante para poder contemplar convenientemente esta agitação ao mesmo tempo que toma um refrigerante ou um chá.






















































Em Marraquexe ficámos 3 noites. Depois prosseguimos até Rabat pela costa onde parámos somente para visitar a zona do palácio real (é necessário pedir autorização para entrar com o carro), as muralhas da cidade e o majestoso e opulento Mausoleu de Mohammed V.




































Percorrendo a boa auto-estrada junto à costa chegámos perto do final do dia a Asilah para aí pernoitarmos 2 noites. Asilah é uma vila puramente portuguesa a nível arquitectónico pois está entre muralhas construídas pelos portugueses com as suas casas caiadas de branco no seu interior. Há alguns hotéis acessíveis mas temos que procurar bem. Há também alguns bons restaurantes e até podemos comer um belo peixe fresco.












































O pequeno mercado de frutas, peixe e carne é outro local interessante para visitarmos e no Verão podemos desfrutar de algumas boas praias ali perto. Já no ultimo dia em terras marroquinas partimos bem cedo para fazermos a viagem toda de regresso de uma só vez até Portugal. Tínhamos o ferry perto das 12 h em Ceuta (mas podíamos ter comprado o regresso desde Tanger pois seria mais rápido já que estávamos bastante perto desta cidade). Ainda tive tempo para ser multado em 400 dihrams por excesso de velocidade... é preciso ter muita cautela e nas autoestradas existem bastantes radares e um estrangeiro é sempre presa facil. Existem vários mitos e histórias de que a policia marroquina "persegue" o turista sempre a tentar sacar algum dinheiro. Isto já não acontece actualmente pois eles sabem da importância do turismo e normalmente assim que vêm que o carro é estrangeiro mandam seguir e são bastante cordiais. Não tenho qualquer razão de queixa nas 2 viagens que fiz.
E assim vivemos uma bela aventura de 7 dias (cerca de 2.800 kms percorridos) neste belo país. Marrocos acaba por ser um el-dorado para o viajante português pois é um país muito diversificado, apresentado enormes montanhas, planícies desertas a perder de vista, uma bela costa, “puro”deserto, oásis, zonas com neve, boas oportunidades para compras e essencialmente uma cultura riquissima com um modo de vida ainda muito ancestral e intacto que funciona como uma autêntica maquina do tempo. E isto tudo… a cerca de 650kms de Lisboa!
É para mim, um destino de eleição que hei-de repetir mais vezes!

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