terça-feira, 16 de junho de 2009

Itália e Grécia (2001)

Em Agosto de 2001, imediatamente após a conclusão do meu curso universitário e cerca de mês e meio de trabalho árduo na empresa de um amigo, optei por celebrar tal facto com a minha 1ª viagem de mochila nas costas em busca dos merecidos momentos de evasão e de aventura. Como o dinheiro ganho em mês e meio não era assim tanto escolhi uma viagem por Itália e Grécia!
Juntamente com a minha namorada na altura embarcámos num avião até Milão.

Milão
Chegados à cidade e sem hotel marcado acabámos por ficar condicionados a um alojamento mais caro do que prevíamos e ficamos apenas uma noite. Deste modo não explorámos praticamente nada desta cidade economicamente e industrialmente mais rica de Itália embora não tão rica em termos históricos e cultura antiga como se revelaria o restante país.

Veneza
Partimos de comboio, por certo o melhor e mais rápido transporte a utilizar e rumámos a oriente para a apaixonante e romântica Veneza. Acabámos por ficar alojados num parque de campismo numa localidade a cerca de 20 kms da cidade da qual não me recordo do nome. Correndo o risco de cair na vulgaridade de mais um comentário sobre o romantismo de Veneza, não existem dúvidas que esta cidade é realmente singular e uma encantadora novidade aos olhos de quem a visita pela 1ª vez. Visitei-a em pleno Agosto e não me apercebi dos tão falados incómodos da poluição e dos cheiros muito comentados entre os conhecidos e amigos que aqui já estiveram. Creio que depende muito das marés na altura em que se visita. Talvez nesta data tenha tido a sorte de apanhar sempre as marés mais altas e menos propícias aos odores dos canais. A única contrariedade é a quantidade enorme de turistas que visitam esta cidade durante todo o ano. Aparte disso é muito interessante vermos que todo o tipo de actividade se faz através dos milhentos canais e rios que atravessam Veneza ao virar de cada esquina: os táxis, os autocarros, as ambulâncias, os correios, os médicos… tudo, tudo em barcos… não existe qualquer carro a circular pelas ruas! O meio de transporte mais utilizado é mesmo as nossas próprias pernas e os boatbus (barcos de transporte público) que são relativamente acessíveis contrastando com a exorbitância (cerca de 60 a 100 euros não me falhando a memória) que nos pedem por um passeio nas típicas e românticas gôndolas, um preço demasiado elevado para o simples mochileiro. Foi muito agradável perdermo-nos por entre o labirinto de ruelas, canais e pontes principalmente aqueles mais afastados dos pólos mais turísticos! De quando em vez deparávamo-nos com um pequeno e tranquilo largo ou praceta onde aproveitávamos para descansar. A quantidade de pequenas e grandes igrejas é enorme bem como edifícios muito, muito antigos (alguns deles até demais, que parecem cair a qualquer momento). Outra boa experiência é escolher uma pequena mesa de esplanada junto a um dos canais menos concorridos e desfrutar de uma refeição ou de uma bebida enquanto assimilamos a originalidade da própria cidade. Após pesquisar bem por entre os menus expostos encontrámos uma destas esplanadas com preços bastante normais comparados com o resto do país.

Florença
Mais uma vez de comboio, partimos para Florença, capital da bela Toscana. Ficámos alojados no parque de campismo Michelangelo a norte da cidade num monte com uma vista incrível e acessível da nossa própria tenda e que nos permitia fácil e rápido acesso a visitar a bela Florença. É uma cidade mágica que transpira de história, cultura e da mais rica arte renascentista de toda a Europa! Em cada esquina se evocam a vida e obras dos mais consagrados artistas de todo o mundo como Michelangelo, Leonardo da Vinci, Giotto, Masaccio, Donnatello e outros. Pontos de visita obrigatória são a Catedral Santa Maria del Fiori, o Palazzo Vecchio, a Ponte Vecchio, Palazzo Strozzi e… talvez todas as ruas, praças e pontes da cidade pois a história e riqueza arquitectónica abunda e envolve-nos mesmo que não a procuremos. Praticamente não vemos um edifício moderno em toda a cidade e a viagem no tempo para a era medieval ou renascentista só é quebrada pelas milhentas vespas e aceleras que circulam um pouco por todo o lado ou pelas vestes modernas dos muitos firenze ou turistas que se passeiam ou descansam nas movimentadas praças. É das cidades mais belas de todo o mundo!
Deixando a Toscana e os seus belos campos de vinhas e oliveiras partimos para Roma. Aqui permanecemos num hotel de qualidade inferior mas nem por isso muito barato para o bolso do português mochileiro. Aliás, a vida em toda a Itália não é nada barata pois a alimentação e o alojamento estão bem acima dos padrões portugueses. Por exemplo uma refeição mínima de uma simples sandes rondava os 5 euros ou um café ou outra bebida a 2 euros. A gastronomia italiana é muito boa para quem aprecie as pastas ou as pizzas mas menos rica em variedade e lembro apenas de um prato de lombinhos de novilho designado de “Saltimboca a la romana”, bastante apetitoso. E até as pizzas, por vezes não são aquilo que esperávamos em Itália pois conheço sítios em Portugal com pizzas bem melhores!

Roma
Em Roma impera o caos, pelo menos na imensa agitação de carros, motoretas e pessoas que se cruzam a toda a hora em grande parte da cidade, isto para não falar da maneira como os italianos conduzem, em muito semelhante ao típico tuga!!! Mas em Roma temos também o expoente máximo do vestígio de uma das épocas históricas mais marcantes de todo o mundo, bem como de uma das civilizações mais poderosas de todos os tempos: O Império Romano!
Na chamada “Cidade eterna” é absolutamente fantástico poder caminhar sobre calçadas e passeios percorridos, há mais de dois mil anos, pelos mais poderosos imperadores e guerreiros da época Romana! Dá ideia que cada pedra que pisamos ou tropeçamos tem uma história riquíssima para contar. O Coliseu de Roma é um marco dessa época e a sua beleza, ou melhor, simbolismo fazem-nos esquecer de todas as injustiças, carnificinas e atrocidades ali vividas. Bem perto do Coliseu temos um espantoso complexo arquitectónico romano onde se engloba o Fórum Romano, principal centro de comércio da Roma Imperial que por sua vez inclui o importante templo de Saturno e muitos outros. Saliente-se outros grandes pontos de interesse como o Castelo de Santo Ângelo, o Panteão, o Fórum de Trajano, a famosa escadaria da Praça de Espanha ou ainda a Fonti di Trevi!
É incontornável a visita à cidade-estado do Vaticano, o menor estado independente do mundo! Residencial do Papa e maior símbolo da Igreja Católica, engloba monumentos tão belos como a Basílica de São Pedro, a Praça de S. Pedro, a Capela Sistina ou o museu do Vaticano. A Basílica de S. Pedro é absolutamente fantástica e a subida a pé até ao topo do edifício será compensada por uma vista esplendorosa sobre toda o Vaticano. É muito importante ver qual o dia em que a Capela Sistina está encerrada pois foi exactamente o dia em que estávamos de visita ao Vaticano! Pois… já tenho uma desculpa para voltar a Roma! Relembro ainda uma especial precaução com os muitos carteiristas, principalmente nos transportes públicos da cidade!
De Roma, e mais uma vez de comboio, rumámos a Bari! Não para visitar a cidade, que decerto valeria a pena mas para embarcarmos num enorme ferry boat com destino a Atenas, na Grécia.
Era um autêntico barco de cruzeiro com quartos para todas as carteiras embora o nosso orçamento desse apenas para o 1º convés com lugares sentados. Dispunha ainda de casino, lojas, restaurantes com acesso a todos os passageiros. Com a ajuda de um saco de cama podemos encontrar um cantinho no chão e dormir um pouco.

Grécia
A viagem dura mais de 15 horas pelas belas águas de azul turquesa do Mar Adriático e seguido pelo Mar jónico. Um céu imenso e estrelado acompanhou-nos no passar das horas em que não dormíamos. Chegados a Patras, o porto de partida para Cefalônia , deparámo-nos com as maiores dificuldades da viagem, nomeadamente na tentativa de obter informações, nos transportes, alimentação, etc.
A Grécia não estava, nessa altura, muito preparada para receber o turista. À excepção da poderosa e eficiente rede de ferrys e transportes por mar, o restante encontrava-se bem mais atrasado que Portugal. Recordemos que em 2001 a Grécia era o pior e o ultimo país na maioria dos índices da União Europeia dos 12. A população na rua não parecia, também estar muito motivada e preparada para receber e agradar ao visitante estrangeiro. Cefalônia é uma ilha ainda no Mar Jónico e embora pouco conhecida e voltada para o turismo era realmente bela e com bons pontos de interesse histórico e algumas boas praias. Esta ilha foi palco da ocupação italiana na 2ª Guerra Mundial e palco do conhecido filme “Capitão Corelli” que retrata esse mesmo episódio em que os Italianos se recusaram a entregar as armas aos seus ex-aliados alemães sofrendo uma perda de cerca de 5000 homens. Da Cefalônia partimos de comboio para Atenas.
A visita a Atenas durou apenas um dia inteiro pois o nosso objectivo seria continuarmos para as ilhas. Também, não creio que existam assim tantos motivos de interesse para visitar em Atenas… e perdoem-me se estou a ser ignorante, mas não gostei muito da cidade á excepção do que restava da época de ouro desta antiga civilização como a Acrópole. No regresso ao porto de Pyreas passei dos piores momentos de todas as minhas viagens quando durante mais de uma hora pretendia saber apenas onde poderia apanhar um autocarro até ao porto e ninguém falava inglês e nem se mostravam interessados em ajudar! O que mais me marcou foi um policia que me “enxotou” violentamente e com desprezo como se fosse um cão. Já estava a desesperar por completo em pânico, não fosse uma rapariga a parar e ajudar-nos a ir até à bilheteira para traduzir. Foi complicado!
Dormitámos junto com mais de 20 estrangeiros ao relento no porto pois o barco apenas partia pela manhã. Nem uma estrutura de abrigo existia para a empresa que tínhamos escolhido. Já no barco todos os problemas e complicações recentes passaram automaticamente pois estávamos a caminho das ilhas de Syrus e Tynos, 2 das 56 ilhas das Ciclades. Escolhemos 2 das menos conhecidas fugindo às comerciais e agitadas Mykonos e Santorini. Existem mais de 100 ilhas gregas e dada a sua reduzida dimensão optámos pela tranquilidade e pelas mais pitorescas. Ainda assim é possível vermos turistas italianos por toda a parte sendo os principais “clientes” do turismo do país. E não me lembrando do nome dos locais, dos hotéis, restaurantes e dos principais pontos de interesse retenho apenas que o clima destas ilhas é muito seco e muito parecido com o nosso Alentejo profundo: casas baixas, toscas, caiadas de branco, ruas estreitas por onde passeiam os velhotes com os seus burros, muitas oliveiras, giestas, figueiras… tudo como o mais típico Alentejo sendo a grande diferença o facto de estarmos rodeados de agua por todos os lados e ainda as igrejas católicas substituídas por igrejas ortodoxas. Até os velhotes sentados nas praças e bancos de ruas com as suas vestes pretas e muito parecidas com o nosso Alentejo ou ainda a gastronomia baseada no tomate, o pimento, a azeitona, o azeite e a cebola eram como se nunca tivéssemos saído de Portugal. Alugando uma motoreta podíamos explorar o interior das ilhas e chegar a praias fantásticas quase paradisíacas com uma agua incrivelmente transparente tingida de um azul turquês que não estamos habituados. Não é tão fácil encontrar praias de areia branca pois algumas são de pedra ou areia mais escura mas a cor e temperatura da água suprimiam esse facto! Foi muito engraçado entrar em alguns estabelecimentos onde éramos transportados numa viagem no tempo pois não existiam caixas automáticas, o dinheiro era guardado numa caixa de madeira acessível a todos, as balanças eram autenticas peças de museu e no meio existia normalmente uma enorme pipa de azeite com um funil onde as pessoas é que se serviam avulso. Não esperávamos esta realidade e tantas parecenças com o Portugal mais profundo ou Portugal de outros tempos mas foi muito agradável mesmo. As pessoas eram também mais simpáticas que no continente.
No regresso da viagem voltámos de barco até Atenas, depois até Bari e depois de comboio de novo a Milão onde tínhamos o nosso voo. Lembro-me ainda que o dinheiro no regresso estava contado e, após já termos vendido a velha tenda e sacos de cama para pagar a nossa ultima noite em Syrus, havíamos comprado um bilhete para um comboio mais lento e estávamos no comboio errado. O revisor, intransigente, queria obrigar-nos a pagar o suplemento ameaçando com a policia e nós não dispúnhamos desse dinheiro sendo um italiano a nosso lado que amavelmente se prontificou a pagar (eternamente agradecido a esse desconhecido). A aventura continuou com a correria para chegarmos ao aeroporto a tempo do nosso voo que com alguma dificuldade lá conseguimos embarcar. Aqui reconheço que foi um erro termos o voo de regresso de novo em Milão pois obrigou-nos a fazer toda a viagem de regresso e perdemos muito tempo que pouparíamos, p. ex., se regressássemos por Atenas.
Mas outra coisa não espero destas viagens: Aventura!

Foi a minha 1ª viagem nestes moldes e que me deu para perceber que este é o tipo de turismo que eu mais gosto, que me permite um contacto mais próximo das gentes e modo de vida das pessoas bem como momentos, felizes ou de tensão, que jamais nos esqueceremos.
Gostei muito de Itália pela sua incrível riqueza histórica e artística, arriscando a dizer que talvez seja das mais ricas nações europeias neste sentido, e adorei as ilhas gregas pela pacatez e simplicidade das pessoas e pelo mar mediterrâneo que as envolve e lhes dá toda a cor.

Marrocos (2002)

Em Julho de 2002 parti no meu Ford Fiesta velhinho e muito, muito rodado com rumo a Marrocos. Estava prestes a acrescentar-lhe mais uns bons kms em cima dos mais de 400 mil que já tinha e ainda uma boa mão de aventuras e peripécias! Era também a minha 1ª viagem a um país cultural e socialmente diferente do mundo ocidental no geral. Seria o meu 1º choque cultural! Para isso contribui obviamente o facto de ser um país com uma religião bastante distinta do cristianismo como é o islamismo. Com poucos preparativos e munidos de passaporte saímos de Samora Correia bem cedo e em 7 horas já estávamos em Algeciras para apanhar o barco para Ceuta. A viagem de ferry é também ela rápida e muito confortável. Chegados à fronteira e aos serviços alfandegários de Marrocos foi imediata a constatação das diferenças de organização e funcionamento destes 2 mundos que embora tão perto são imensamente distintos! A fila para registar e carimbar a entrada era enorme bem como o assédio dos muitos transeuntes oportunistas que se faziam passar por assistentes dos serviços fronteiriços. Insistiam que conseguiam, a troco de 5-10 ou mesmo 15 euros passar-nos à frente da fila e tratar-nos da papelada poupando tempo. E completamente ingénuo caí na esparrela e passei o dinheiro para a mão dele na esperança da tão esperada poupança de tempo. Ele trouxe-me um papel assinado por não sei bem quem e deu-me a indicação de que deveria esperar mais um pouco. A única facilidade que obtivemos foi passar para uma fila com menos 2 carros mas o tempo de espera foi praticamente o mesmo e ao apresentar o dito papel, o guarda alfandegário ignorou-o dizendo que não valia nada. Ainda na fronteira fizemos um seguro próprio para o carro que creio ser obrigatório na altura pois a carta verde não tem validade em grande parte dos países africanos. Em Marrocos não existiam seguros, as disputas eram resolvidas na altura entre os envolvidos no acidente e quem fosse o culpado teria que pagar o estrago ficando apenas a honra e integridade como garantia! Muito estranho, mas era mesmo assim! E não foram necessários muitos kms para rezarmos e implorarmos que o dito seguro fosse mesmo verdadeiro e funcionasse mesmo tal não é a maneira louca de conduzir destes marroquinos: ultrapassagens nas curvas, ultrapassagens com carros de frente, desrespeito por stops e outras sinaléticas, etc…etc… Só respeitam mesmo as brigadas policiais e militares que vão frequentemente surgindo pela estrada.
O nosso 1º destino era Chefchauoen, uma pequena vila no interior norte do país. Pelo caminho passámos por Tetouan, onde fizemos uma breve paragem mas o ambiente degradado e as caras escuras e assustadoras dos locais levaram-nos rápido a prosseguir caminho! Ainda íamos demorar uns 2 dias a acostumar-nos a esta estranha realidade!















Chefchauoen é sem duvida uma vila encantadora com ruas estreitas por onde passeiam comerciantes com os seus burros , as casas caiadas de branco, outras de azul turquesa dão um toque muito castiço e envolvente a esse lugar. Na praça central da vila temos uns cafés muito acolhedores onde pelo chão, nos puffs ou em cadeiras de rede descansam alguns turistas gozando da tranquilidade quotidiana enquanto disfrutam de um revigorante chá e de uma cachimbada aromática. Pernoitámos 2 noites que bastaram para nos deixar envolver pela magia e serenidade deste local.




















Daqui prosseguimos para Rabat, a capital do Reino! As estradas são de boa qualidade e como tal as viagens são relativamente rápidas e cómodas. Como não tínhamos quaisquer hotéis marcados optámos sempre por partir pela manhã, entre as 9 e as 10h, para podermos fazer a viagem de dia e chegarmos de dia ao destino de modo a facilitar a procura de local para ficar. Marrocos é um país seguro mas viajar de dia é a melhor opção para evitar problemas de maior! A forte presença militar e as severas leis para os infractores são dissuasoras da prática do crime.






Em Rabat, com os seus 1,5 milhões de habitantes, sentimos na pele o caos e a confusão de uma grande capital… principalmente no trânsito! Encontrar um hotel também não é fácil pois os baratos são demasiado baratos e as condições são, na maioria desanimadoras, e os hotéis mais caros são realmente caros, ainda que muito charmosos e opulentos. Nesta cidade ficámos apenas uma noite e deu para visitarmos alguns dos monumentos estatais e do reino mais interessantes, ver de fora a opulência do palácio e residência do Rei Hassan II e passear na Medina (parte velha e zona comercial de qualquer cidade marroquina).
De partida para Casablanca vivemos mais uma aventura um pouco mais assustadora pois a policia militar, sempre fortemente armada, confundiu-nos com um outro carro estrangeiro e quando passávamos perto de uma zona residencial de membros do governo e do Reino fomos bruscamente mandados parar com metralhadoras apontadas enquanto um dos militares falava com alguém por rádio. Passados uns minutos lá nos mandaram avançar e seguir caminho com a mesma brutidade que nos tinham mandado parar.
Em Casablanca destaco a grandiosa e riquíssima mesquita Hassan II. É das poucas mesquitas que os ocidentais podem visitar e vale todos os minutos e esforços pois recordar-me-ei sempre dos belos mármores importados e incrivelmente bem trabalhados e esculpidos, dos fantásticos e enormes candeeiros de cristal de Murano (Veneza) e por fim o tecto que abria automaticamente, como que por magia, e deslizava em todo o seu comprimento de modo a que os fieis possam rezar directamente para o céu.















Já para sair de Casablanca foi de novo o caos pois, com mais de 3 milhões de habitantes, os carros são mais que muitos e as regras e sinais nos cruzamentos são inexistentes. A certa altura dou comigo com o carro parado no meio de um cruzamento sem conseguir avançar um metro que fosse durante mais de 5 minutos, com carros a passar por todos o lados enquanto buzinavam ferozmente e eu, em desespero e depois de fechar os olhos sem saber o que fazer, lá arranjei um pouco de coragem e, ao som de buzinadelas desenfreadas, avancei destemido à bruta também! Foi o único modo de sair dali!
O destino era Marrakech, mais a sul e uma das portas para o deserto do Sahara!
E Marrakech reservava-nos uma agradável surpresa: era uma autêntica cidade de mil e uma noites com toda a confusão e caos de uma grande cidade! Aqui a oferta hoteleira é mais vasta e embora um pouco mais cara permite um hotel de 3 estrelas com piscina por um preço convidativo. Ficámos numas das muitas avenidas largas ladeadas de hotéis que davam acesso ao centro e à parte mais antiga. A cidade tem muitos pontos de interesse mas o lugar mais incrível, para mim até mesmo de toda a viagem, é a Praça Jeema El Fna. Uma grande praça rodeada de bancadas e pequenas lojas e bem no centro confluem centenas de pessoas vindas de todas as partes de África predominando os Berberes e os subsaharianos que, após percorrerem milhares de kms, aqui vêm para mostrar e vender os seus artefactos e mercadorias e proporcionando espectáculos de faquires, encantamento de serpentes, comedores de fogo e muitas outras artes. É uma autêntica Babel, um pólo de cultura como haverá poucos em todo o continente africano!










































Inesquecível! Encontramos aqui coisas tão singulares como dentaduras e partes delas à venda arrancadas aos mortos, peças de rádios, televisões ou outros electrodomésticos, sapatos e ténis usados sem o respectivo par, frutas, alimentos, animais, e muito mais… É de noite que a praça ganha uma vida ainda mais mágica sendo lotada pelos turistas e locais.
A Medina e zona comercial mais antiga é bastante interessante e o turista deverá deixar-se perder pelas ruelas repletas de bancas, pelos cheiros das comidas de rua, visitar as farmácias tradicionais ou as grandes lojas de tapetes comprando nem que seja uma pequena lembrança contribuindo assim para este frenesim comercial. O almoço de um dos dias em Marrakech acabou por ser numa dessas ruas estreitas, numa mesa e cadeiras improvisadas com caixas vazias de refrigerantes, no chão, com umas brochetes na brasa e 2 sumos de laranja naturais. Aliás, o sumo de laranja tal como os caracóis vendem-se por todo o Marrocos e são absolutamente deliciosos, onde quer que fosse! Recomendo também as tagines, que são panelas de barro afuniladas onde se cozinham carne de frango ou borrego, ou o cous-cous, uma espécie de cozido a portuguesa com legumes e carne cozidos acompanhados por uma massa granulada fininha.










No regresso para Portugal desde Marrakech as aventuras continuavam e depois de um calor infernal num carro sem ar condicionado, um pó do deserto tão fino que passado um ano ainda persistia nos recantos mais recônditos do carro, tivemos ainda um furo. Para arrematar decidi ainda ser um verdadeiro marroquino e fazer uma ultrapassagem em pleno risco contínuo e, por azar, estavam 2 policias mais à frente, de óculos escuros e metralhadora na mão. Um deles mandou-me encostar e começou a sorrir sarcasticamente enquanto perguntava se eu sabia o que tinha feito! Começou com a conversa habitual de assustar o turista e depois… abriu o pequeno livro que tinha e disse para colocar a carta bem como algum dinheiro! Como não tinha mais nada lá foram 20 eurinhos que deviam equivaler a 3 ou 4 dias de trabalho para ele!
Pelo caminho ficámos uma noite em El Jadida, uma zona balnear, antiga colónia portuguesa de nome Mazagão e que conta ainda com as bem conservadas muralhas e a cisterna da fortaleza. É uma zona de muita oferta turística e a praia é de relativa qualidade. Antes de regressarmos a Portugal restavam-nos uns 3 dias para descansarmos na praia e experimentámos a zona costeira voltada para o Mediterrâneo entre Tetouan e Al Houceima mas as praias não eram tão bonitas como esperávamos e a oferta hoteleira era quase exclusiva a resorts mais dispendiosos e sem grandes estruturas (comercio e outros) à sua volta. Optámos antes pelo sul de Espanha onde descansámos desta verdadeira aventura!
Foi um 1º contacto com um povo muçulmano, em muito diferente da nossa realidade ocidental mas sempre muito disposto a ajudar e com curiosidade de saber mais sobre nós! Revelou-se uma viagem muito enriquecedora de todos os pontos de vista e Marrocos talvez seja um dos países muçulmanos mais preparados e “abertos” para receber o turista proporcionando uma excelente oportunidade para que os portugueses, de uma forma “pacífica” e fácil, possam viver uma experiência única muito interessante.

Nova York (Junho 2002)

Não sou de forma nenhuma um adepto e amante da América e muito menos dos Americanos (pelo menos daqueles que proferem aquelas barbaridades que vamos assistindo todos os dias) mas… tinha que ser! Tinha mesmo que ir à cidade que está no centro do mundo, onde tudo acontece! É muito importante salientar que Nova York não é verdadeiramente a América pois quem lá habita e trabalha são cidadãos de todo o mundo, o ambiente é multicultural e as pessoas são normalmente muito simpáticas e prestáveis, principalmente as autoridades. Nova York é exactamente como vemos nos filmes: as limusinas, os polícias gordos a comerem o seu donut, as sirenes dos carros de bombeiros a passarem, os executivos de pasta na mão que se cruzam com os dominicanos, mexicanos, cubanos de calças largas, cordões ao pescoço e bandeiras na cabeça! Uma grande mistura muito interessante!
Foi em Junho de 2002 que viajei com o meu amigo João Miguel, também ele muito curioso com o que “Big Apple” seria na realidade. Fomos apenas por 4 noites (5-6 noites são suficientes para se “sentir” a cidade) e ficámos alojados num hotel bem perto do centro e perto da Grand Central. Os quartos eram minúsculos, com beliches e com casa de banho partilhada mas era muito limpo e prático. O alojamento em Nova York é sem dúvida dispendioso e difícil de arranjar/reservar. De manhã acordávamos bem cedo pois ainda deitados, sentíamos lá fora o pulsar e fervilhar da agitação desta magnifica cidade. Não dá para ficar ali deitado sabendo que o mundo gira mesmo ali ao lado. Como é uma cidade plana recomendo andar à superfície o mais possível pois poderemos absorver mais rapidamente o modo de vida desta cidade. De semana, pela manhã, toda a gente corre para algum lado enquanto levam na mão um café Starbucks ou um jornal do dia. Como pontos de interesse a visitar fomos aos “obrigatórios”: Empire State building, Quinta Avenida, Central Park, Brooklin Bridge, Time Square, Pier 17, Guggenheim Museum, Metropolitan… e outros. Mas a parte mais interessante é mesmo andar nas ruas, andar no metro, apanhar um cab, jantar num bom restaurante típico de uma qualquer parte do mundo, ir a um jogo da NBA, ir a um musical, etc. Destaco ainda o bairro de Chelsea com as suas vivendas características que vemos em tantos filmes e ainda o Museu de História Natural, o porta aviões USS Intrepid, o submarino USS Growler e fazer uma viagem de barco em torno de toda a Manhattan (apanha-se perto do Intrepid) e onde dá para ter uma vista magnifica sobre a cidade, as pontes e a Estátua da Liberdade. Subimos ao Empire State Building de dia e depois de noite e ambas valem a pena pois a vista é excelente. Lembro-me de, à noite, irmos caminhando na rua meio perdidos e de repente apercebermo-nos de um grande clarão de luz e sons crescentes de movimento e agitação. Foi quando, ao dobrarmos uma esquina, deparámo-nos com a surpreendente e iluminada Time Square. Ambiente fantástico com muita gente, limusines e neons…
Outro episódio curioso foi num dos dias em que saímos cedo estavam obras grandes na estrada em frente do hotel, com cilindros, escavadoras, martelos pneumáticos, maquinas de alcatrão e quando regressámos ao final do dia, toda a avenida estava arranjada, novo piso, impecável… num único dia! O mundo ali gira a 300 à hora!
Em termos de despesas e excluindo o alojamento, o restante não é nada caro e em muitos casos ao nível dos custos em Portugal, e com a valorização do euro torna-se um verdadeiro paraíso das compras (roupa, calçado, perfumes, electrónica e fotografia). As refeições durante o dia eram feitas nos muitos “Delis” de esquina que tinham, ao peso, comida chinesa, tailandesa, indiana, paquistanesa, muçulmana, mexicana, cubana… tudo misturado e representando essencialmente a panóplia da variedade dos próprios empregados destas lojas de conveniência. Almoçávamos por 6-8 dólares (prato e bebida). Ao jantar escolhíamos um bom restaurante diferente todos os dias (mexicano, japonês, alemão, chinês, italiano, etc) por pouco mais de 25-30 dólares por refeição. Um episódio engraçado foi quando, já tarde e um pouco desesperados, entrámos num restaurante Japonês muito simples mas muito característico no Lower East Side e que ficava numa espécie de cave. Estava a abarrotar de asiáticos a comerem ao balcão e espalhados pelas mesas, muito barulho, fumo da comida no ar, proporcionando uma experiência muito interessante e culminada com um atribulado regresso num táxi conduzido por um indiano de turbante, decorado com pendentes brilhantes, cortinas com lantejoulas, cheiro a incenso e uma musica frenética em alto volume. Só visto!
E assim se passou muito rapidamente esta viagem ficando na memória aquela que é, para mim, a mais louca e interessante cidade do mundo onde se tem mesmo a noção que tudo se passa, tudo acontece e a uma velocidade alucinante!
Não costumo desejar cegamente regressar a um local onde já estive, mas neste caso vou abrir uma excepção pois desejo mesmo voltar à incrível NY!

Natal, Brasil (2000)

Aproveitando uma promoção de um sharter irrecusável (490 eur) acabei por reservar uma dessas viagens com tudo “marcadinho” (voo, transferes, resort, meia-pensão, etc). Sim, fui mesmo! Foi a primeira e única vez que o fiz, até agora! E soube-me muito bem! Ainda que não faça nada o meu género nem o meu gosto pessoal, não posso negar que é muito agradável e confortável ter tudo controlado e poder verdadeiramente descansar. O destino escolhido foi a cidade de Natal e Pipa, no estado nordestino do Rio Grande do Norte. À chegada um taxista lembrava que Natal era “uma pequena cidade de 800 mil habitantes”!?!? Deu para ter uma noção da dimensão deste grandioso país. Junho é supostamente a altura de Inverno por estas bandas e realmente chovia diariamente mas a temperatura era elevada e rapidamente a chuva parava e o sol tudo secava, possibilitando mais um mergulho no mar. As praias, essas, são muito parecidas com as boas praias portuguesas apenas com mais coqueiros. Há algumas verdadeiramente belas e com areal de perder de vista mas verdadeira “riqueza” desta zona do Brasil é a descontracção e tranquilidade com que se vive a vida. A população, maioritariamente pobre, é muito calorosa e muito curiosa da forma como se vive na Europa e em Portugal, como se fossemos todos ricos ou então com alguma intenção de emigrar para cá na procura de uma vida melhor.
Ficámos no Hotel Vila do Mar que era muito simples, não tão recente como outros daquela zona mas limpo e suficiente para aquelas 7 noites de alojamento. A grande vantagem deste hotel é que ficava mesmo “colado” e mesmo de frente (5-10 metros apenas) de uma bela e grande praia, quase deserta. Tinha somente 2 pisos e por sorte eu e o meu amigo Pedro ficámos no rés do chão. Como tinha uma grande janela corrida era só levantar da cama ou da espreguiçadeira do pátio, saltar um muro de 1 metro de altura e ficávamos imediatamente com os pés na areia, prontos para mais um belo mergulho. Fantástico!!!! Isto vale mais que as 5 estrelas na placa do hotel… para mim! As caipirinhas também eram boas… mas também são sempre boas quando estamos naquele clima e naquele ambiente.
Acabámos por fazer quase todas as excursões da praxe onde destaco apenas o buggy nas dunas e o mergulho nos corais. Esta zona do Nordeste até é relativamente segura e podemos aventurar-nos por nossa conta. Alugámos um buggy, nós mesmo conduzimos e fomos até Pipa e até andámos “a abrir” pelas imensas praias desertas… parecia um filme! Atenção que as dunas são “proibidas” para nós ocidentais pois são altamente perigosas para quem não as conhece bem. No regresso demos boleia a uns miúdos e fomos levá-los a casa, facto que a mãe agradeceu fervorosamente convidando-nos a jantar mas tivemos que recusar pois viajar de noite num local destes (grandes extensões de mato e selva) poderia ser uma aventura demasiado arriscada.
Levámos connosco umas 3 garrafas de vinho tinto e Porto, que no Brasil vale ouro e pode servir de moeda de troca ou para dar uma boa gorja a um prestável taxista ou guia. Sem mais nada de especial a assinalar ficou-me na memória o modo de vida simples das pessoas da região e a evidência de que o Brasil é um país ENORME, rico em beleza natural e com um grande potencial. Creio que posso afirmar que a grande maioria dos portugueses que viaja para o Brasil acaba por sentir uma forte ligação e empatia com estas terras e este povo, de alguém que fala a nossa língua. No entanto, da parte dos brasileiros não percepcionamos esse sentimento nem esses laços tão fortes e alguns desconhecem mesmo onde é Portugal. E, infelizmente a realidade é que somos nós portugueses, nação milenar e historicamente heróica, que diariamente somos influenciados pelo Brasil, pela sua cultura e poder económico.

India (2006)

Durante mais de 6 meses estivemos a ganhar coragem e forças para nos aventurarmos num país que sabíamos, à partida, que iria ser complicado para uma viajem de mochila às costas como seria a Índia. No entanto uma força inconsciente chamava-nos para explorar um país que tem tanto de vasto como de singular e misterioso para descobrir. Sabíamos que as condições que este vasto país tem para oferecer a este tipo de turismo são precárias e muito duras. E, não nos enganámos!!! Apesar de meses de consciencialização para essas dificuldades, o choque à chegada a Nova Deli foi tremendo… assustador mesmo! Chegámos ao aeroporto internacional da capital perto das 3h da manhã do dia 3 de Agosto de 2006. Aguardámos dentro do mesmo para que nascesse o dia. Até aqui tudo bem pois o aeroporto embora simples era relativamente normal e limpo. Com os 1ºs raios de sol começou a fervilhar em nós a curiosidade de iniciar a aventura a valer e ir conhecer a cidade. Mal se abriram as portas do aeroporto e constatámos logo o 1º choque: o cheiro era nauseabundo (tipo pocilga mesmo) e que, aliado à humidade quente que se fazia sentir, originou como que uma ameaça de tontura e desmaio! Jamais irei esquecer aquele odor… não porque tenha sido o pior que cheirei nesta viagem (longe disso), mas sim por causa do 1º impacto com este país! Bom, daqui para frente foi o frenesim, a agitação, o caos, os receios, o stress ... mas também a compensação de tudo o que este grandioso e rico país tem para dar!



O assédio para o transporte, alojamento, refeições, compras e visitas guiadas é enorme o que, aliado às faces de pele escura, para nós muito estranhas e às vestimentas muitas vezes sujas e rasgadas, nos leva a um receio e desconfiança muito grande mas que, com o passar do tempo se revela desnecessária e sem sentido! Ao chegarmos ao centro de Nova Deli apercebemo-nos do “caos organizado” que se vive nas grandes cidades indianas.





Escasseiam os sinais e regras de trânsito, e tudo funciona através da buzinadela . Absolutamente incrível e desesperante até nos ambientarmos! A pé pelas ruas, as sensações e visões imediatas não são as melhores: o lixo nas ruas, os cheiros que se vão misturando, os cães vadios, as vacas magras com ar doentio, as crianças semi-nuas a revolverem os montes de porcaria acumulada, os pedintes sujos, deficientes ou doentes vagueiam por entre os carros e motos completamente moribundos! Foi aqui que nos apercebemos que, por muito que nos tivéssemos preparados, jamais seria o suficiente! Não fosse a esperança que as coisas fora dos grandes centros seriam realmente melhores e mais agradáveis, teríamos regressado a Portugal pois o que vimos nos 1ºs 2 dias na capital não compensava este choque que estávamos a viver! No entanto, a condição humana tem tanto de misterioso como de fantástico pois no final do 2º dia já conseguíamos ver e encontrar os pormenores mais incríveis, singulares e até maravilhosos que tínhamos ambicionado, nem que fosse apenas por um minuto enquanto não tínhamos que nos desviar de uma ratazana com 20cms a alimentar-se e a partilhar com uma criança, um monte de lixo mesmo ali ao lado!



Mas não se pense que a Índia é um país assim tão pobre! Aliás é muito mais rico e próspero que Portugal e dispõe dos melhores médicos, cientistas e da melhor tecnologia do mundo! Era frequente vermos pessoas nos cafés com portáteis ou com telemóveis topo de gama ou lap tops! O problema da Índia reside no facto de serem pessoas a mais para os recursos existentes, deriva também uma questão cultural que ainda obriga a uma divisão social em castas e hierarquias e ainda à aceitação da condição de pobre e mendigo como uma situação normal histórica e cultural!
Por mais estranho que pareça, a mendicidade e a pobreza fazem parte da cultura e da religião da Índia! Alguns dos seus deuses hindus passaram por esta fase no seu caminho para o divino, bem como os budistas o fizeram e fazem para na sua tentativa de alcançar o Nirvana e a Iluminação.
O que mais fascina na Índia é a sua diversidade cultural e religiosa que se misturam numa harmonia aparente por entre os milhões de pessoas que se cruzam na rua. É sem margem para dúvidas o país mais rico e diversificado culturalmente, sendo aqui que surgiram algumas das importantes religiões que subsistem até aos dias de hoje, como o Hinduísmo, o Budismo, o Jainismo e o Siquismo e muitas outras desconhecidas para nós, leigos ocidentais . O Hinduísmo é a religião predominante, seguido do Budismo e do Islamismo. Os católicos escasseiam mas vão surgindo e metendo conversa com os ocidentais na tentativa de satisfazer a sua curiosidade. E curiosidade é uma das maiores características do povo indiano pois por entre a multidão os caminhos abriam-se para nós e os nativos paravam mesmo para nos verem e observarem, para tocar na nossa pele, para nos tirarem fotos, para colocarem a cabeça por cima do nosso ombro na tentativa de lerem o nosso guia ou apenas para sorrirem para nós sobressaindo o branco imaculado dos seus dentes bem como toda a simplicidade e simpatia de um povo. Inesquecível!!!
Na capital, Deli, destaco apenas a porta da Índia e a zona do Parlamento (a única zona limpa), o palácio real (Forte Vermelho), a mesquita de Jami Masjid, as lojas, bazares e mercados recheados de artesanato, recordações e velharias.
De seguida apanhámos o comboio para norte, para Pathankot, a caminho de Daharamshala, o refugio de Dalai Lama no sopé dos Himalaias. A estação de comboios de Deli é também ela caótica, com muitos cheiros à mistura e algumas ratazanas e baratas nas linhas, principalmente à noite.

É fácil perceber o porquê deste elevado numero de bicharada pelas ruas pois os Indianos como bons religiosos hindus e budistas não matam qualquer animal, o lixo nas ruas serve de fonte rica em alimento e eles próprios não têm uma cultura ambiental e de higiene pública muito enraizada. Aliás... essa consciência ambiental é praticamente nula.
À medida que nos afastamos dos grandes centros as condições vão melhorando, as ruas são mais limpas e menos caóticas. No norte respira-se o ar puro do maciço montanhoso dos Himalaias e a tranquilidade do pacifismo dos budistas existentes em toda a zona. É realmente relaxante e compensador todo o ambiente vivido na cidade que abriga o Pontífice Dalai Lama, Daharamshala.



De Daharamshala partimos para Manali mais no coração dos Himalaias e excelente para explorarmos este majestoso gigante, apelidado como o tecto do mundo! Fomos de autocarro que ao contrário dos comboios se revela sempre muito pouco confortável, muito moroso mas também originador das cenas e aventuras mais caricatas e inimagináveis! Nesta viagem, por exemplo, o autocarro sem ar condicionado nem suspensões dava saltos ao passar nas esburacadas estradas e isto enquanto o motorista ia cuspindo de 2 em 2 minutos, uma substancia preta que provinha do tabaco de mascar! Nós, para ajudar à festa, íamos muito encolhidos num pequeno banco improvisado mesmo atrás do condutor.





Pelo caminho as paisagens eram majestosas e o verde ia substituindo o negro da poluição e o colorido dos carros! Respira-se um ar muito fresco e a tranquilidade impera! Já em Manali e muito bem instalados, agendámos um passeio de jeep 4x4 de 2 dias por entre os trilhos do coração dos Himalaias. Depressa atingimos os 5 mil metros e à medida que penetrávamos para o interior do maciço, o verde era substituído pela aridez mágica da montanha e o silêncio era apenas quebrado pelo agitar desenfreado e assustador das aguas originadas pelo degelo da época. Os caminhos eram muito estreitos e por vezes cruzávamo-nos com camiões carregadíssimos que roçavam as bermas dos precipicios mais altos que se possam imaginar.



A cabeça pesava e o mínimo esforço cansava bastante. O destino eram várias aldeias budistas que anteriormente pertenciam ao Tibete e o ponto alto seriam os míticos templos budistas que se alojam nas escarpas ou cumes das altas montanhas. Nada podia estar mais harmonioso com a própria montanha que esta religião e este povo que a venera e por ela reza demonstrando um enorme respeito pelas forças da natureza. Os rostos dos povos que vamos encontrando têm traços muito diferentes da restante Índia sendo de predominância mongol, reservados mas muito simpáticos.



Os nómadas e pastores surgem caminhando ou nos seus burros, nas estradas mais remotas e estreitas como quem vai ao café da esquina ou supermercado mais próximo! Vêm-se também alguns ocidentais a caminhar ou de bicicleta explorando a montanha na tentativa de absorver toda esta magia que ela transmite ganhando forças em todos os pequenos templos budistas decorados com bandeiras multicolores que, ao vento, nos vão lembrando de quem dita as regras ali é a própria natureza! É aqui que constatamos que somos um pequeno grão de areia em toda esta imensidão.



De Manali prosseguimos para Shimla mas alugámos imediatamente um carro com 2 condutores para nos levarem até Agra, perto de Deli e depois para o Rajastão, numa tentativa de poupar tempo… e resultou! Em Agra visitámos o imperdível Taj Mahal.



Valeu bem a pena pois a riqueza deste monumento é enorme! Foi mandado construir pelo imperador mongol Xa Jahan em honra da sua amada esposa Mumtaz Mahal, em 1643. É de influência islâmica e está ricamente decorado com muito ouro e pedras semi-preciosas. Não é muito grande mas é muito rico!
Ficámos apenas mais uma tarde em Agra onde tivemos que descansar numa mesquita de borda de estrada que recebe e aloja peregrinos mas cujas condições estão muito aquém do que estamos habituados… mas pronto… já estávamos a ficar habituados!
De novo na estrada fizemos muitos kms até ao Rajastão. Mais uma oportunidade de presenciar as mais caricatas situações no transito desde uma auto-estrada com 3 faixas onde normalmente circulavam 5 faixas, desde irmos nessa auto-estrada e de repente apercebermo-nos de umas luzes de frente que pertenciam a alguém que achava que deveria ir no sentido contrário ou ainda os muitos camiões avariados na faixa do meio, sem sinalização e que obrigava a manobras loucas para nos desviarmos. O que é certo é que raramente víamos um acidente e acima de tudo apita-se mas ninguém fica chateado com ninguém, nem insulta ninguém! Temos muito a aprender, nós os portugueses!

O destino desta viagem foi Jaipur, “A cidade Rosa”, derivada da pedra barrenta que são feitos os edifícios mais antigos. Esta zona da Índia é das mais secas mas das mais ricas culturalmente e historicamente, onde se cruzam homens de turbantes, encantadores de serpentes, vendedores de ouro e pratas e jovens de jeans. Parece tirada de um filme das mil e uma noites!





Tivémos alguma dificuldade em arranjar alojamento pois apenas existia o muito caro com hotéis majestosos com porteiros rigorosamente vestidos ou o muito barato de aspecto mais duvidoso. Após 4 ou 5 tentativas lá encontrámos um meio termo aceitável. Aproveitámos também para comer uma pizza… sim uma pizza e carne pois há muitos dias que estávamos obrigados a uma dieta vegetariana tal a dificuldade em encontrar pratos de carne. Os hindus não comem vaca, os budistas são vegetarianos e os muçulmanos não come porco logo… muita fominha para o tuga normal!



Em Jaipur visitámos o Hawa Mahal com a sua invulgar fachada, o palácio Chandra Mahal e o Forte de Amber, onde subimos de elefante até ao interior do mesmo. O elefante, antes utilizado em todos os trabalhos pesados e mesmo nas batalhas é agora usado no turismo, também explorado, mas de uma forma menos violenta! Este palácio-fortaleza data do sec. XVI e demonstra toda a riqueza de um povo em cada uma das minuciosas decorações de pedras semi-preciosas ou arcos e janelas rendilhadas.

Após 2 noites de estadia prosseguimos para oeste direitos a Udaipur, a cidade dos lagos, menos seca mas com a cultura do Rajastão bem presente até nas pinturas nas paredes da casa mais simples no centro da cidade. Destacam-se o palácio Jag Niwas sobre o lago Pichola e o Palácio Real da Cidade com um excelente conjunto de artefactos mongóis e islâmicos. Esta cidade vive um ambiente muito descontraído e até romântico e nas ruas, à noite, víamos muitos estrangeiros em plena conversa com os locais que se mostravam muito curiosos do modo de vida ocidental. Nós próprios ficámos mais de uma hora a conversar com o dono de um restaurante sobre os valores do casamento e as diferenças entre as 2 culturas. Muito enriquecedor tanto para nós como para ele próprio!



De Udaipur partimos de autocarro até Bombaim para apanharmos o comboio até Goa, mais a sul! Bom esta viagem revelou-se numa das maiores e mais duras de todas as que fiz até hoje. Na paragem de autocarro e enquanto aguardávamos mais de 2 horas, serviam-nos um aconchegante chá, e estávamos rodeados de cartazes com autocarros de luxo, aerodinâmicos, de bom aspecto… apontávamos para as fotografias e as pessoas sem perceberem o inglês acenavam que sim com a cabeça, enquanto sorriam! Chegados à hora fomos “puxados” numa correria louca com as mochilas a reboque para um parque de autocarros velhos e a cair, esperançados de encontrar o nosso autocarro com estofos em pele. Por fim parámos junto de um autocarro surreal, velhíssimo, sujo e com malas e pessoas no tejadilho. Discutimos com o tipo e com o camionista mas eles iam arrancar sem nós e tivémos mesmo que embarcar pois, caso contrário, ainda hoje estaríamos à espera do luxuoso bus. A viagem durou quase 16 horas com apenas 3 paragens e onde nós éramos os únicos “brancos” em todo o autocarro. O autocarro também era muito particular pois em baixo eram cadeiras normais de autocarro e por cima estavam uns compartimentos que eles chamavam camas de estofos completamente encardidos. Todos olhavam para nós! Havia pessoas deitadas pelo chão e o cheiro também era característico. Deu para nos rirmos durante uma boa meia hora… até começar o desconforto da estrada e das suspensões, e ainda, eu ter adoecido com uma gastroenterite aguda e repentina. Fiquei com febres altas e vomitei uma série de vezes (pela janela pois eles não param). Quando parámos numa das vezes passei por entre os corpos adormecidos pelo chão do autocarro e quando saí acabei por desmaiar de fraqueza! Os indianos aperceberam-se e agarram-me a tempo… jamais esquecerei quando abri os olhos, poucos minutos depois, e vi cerca de 20 indianos com aquelas caras cómicas de olhos curiosos esbugalhados a fixarem-me enquanto eu tentava perceber o que me tinha acontecido! Linda imagem, muito caricata! A Ana sem falar inglês desesperava na tentativa de saber o que se passava e de comunicar com os nativos. Retomei forças e tive que aguentar viagem até Bombaim. Ficámos à entrada da cidade na borda de uma estrada sem qualquer paragem, posto de informação, lojas, policia… nada! E já era noite cerrada! Lá conseguimos quem nos levasse para a estação de comboio que pretendíamos e ficámos umas boas 6 horas à espera de comboio para Goa. Ficámos numa sala “VIP” reservada para bilhetes de 1ª e 2ª classe que já não era usada à meses, com ar condicionado, wc privativos limpos e tínhamos a visita constante dos funcionários que muito contentes por terem tão ilustres convidados, perguntavam num inglês macarrónico “OK?” e sentavam-se ao nosso lado enquanto olhavam para nós, riam e perguntavam repetidamente “OK?”. Muito engraçado não fossem as muitas e gigantescas osgas que nos miravam e aproximavam-se sem medo! Pareciam dragões de kommodo indonésios! Eu lá ia dormindo recuperando da viagem enquanto a Ana vivia um pesadelo, mas acordada!
Já no comboio para Goa, voltámos a ter algum conforto em vagão com cama e ar condicionado e onde íamos dormindo nas 12 horas de viagem interrompidas apenas pelos pregões dos vendedores, que carregados de comida e bebidas, percorrem os corredores das carruagens.
Chegados a Goa parecia que estávamos noutra India: mais tranquila, limpa, com palmeiras, ar fresco do mar,…



Procurámos um hotel perto do mar e não foi difícil encontrar pois estávamos em época baixa e os preços também eram mais baixos! O mar nesta altura está muito revolto e apresnta uma cor barrenta impossibilitando um mergulho! As praias e paisagens são muito giras, muito ambiente tropical de coqueiros e palmeiras, areias brancas embora não se possa considerar um verdadeiro e típico paraíso, é realmente muito agradável e bonito. Procurávamos com a nossa ida a Goa, de uma forma semi-inconsciente, aquilo que qualquer português procura numa viagem a uma ex-colónia: um reencontro com uma réstia de cultura portuguesa. Algo que nos faça esquecer a nossa actual pequenez e insignificância no panorama actual e relembre os grandes feitos de outros tempos de que, quer queiramos ou não, acabaremos por orgulhosamente dizer “isto é português” ou “isto foram os portugueses que trouxeram ou construíram”! Mas na realidade Goa acaba por ter muitos edifícios e monumentos portugueses mas os habitantes passam ao lado de tudo isso e muitos não sabem sequer quem foram os portugueses ou onde fica Portugal! É preciso procurar muito bem alguém que ainda fale e se lembre do português apesar de algumas palavras serem portuguesas ou do nome de todas as ruas ser em português. Ainda assim vale muito a pena passear pelas ruas de Panaji (capital da região de Goa) com arquitectura tipicamente portuguesa bem como as muitas igrejas existentes.



Alugámos uma moto e tranquilamente passeámos por entre arrozais e palmeiras com igrejas espalhadas um pouco por todo o lado, bem como as casas senhoriais antigas portuguesas e holandesas cuidadosamente restauradas e que proporcionam uma viagem no tempo muito real e interessante. Destaco ainda a mundialmente conhecida Basílica do Bom Jesus que alberga o túmulo de S. Francisco Xavier e a Sé Catedral. Goa foi anexada pela União Indiana em 1961 após 400 anos de domínio português.





Após cerca de 4 dias em Goa fizemos a viagem de regresso, de comboio até Bombaim e daqui voámos directos para Frankfurt e depois Lisboa poupando uma longa viagem até Deli! Quando chegámos a Portugal, exaustos e 5 quilos mais magros não queríamos sequer pensar na hipótese de regressar mas passados 2-3 meses e constatando o impacto que esta viagem teve nas nossas vidas, e no modo de ver o mundo, damos connosco com uma enorme vontade de visitar o tanto que ficou por conhecer, ansiando mais uma oportunidade de interagir com o povo indiano ou apenas de ver um daqueles sorrisos inocentes de quem pouco tem mas que pode dar muito! Será uma viagem que ficará para sempre marcada nas nossas memórias pelas aventuras e desventuras vividas e pela singularidade de um país tão vasto, tão rico na sua cultura, na sua história e nas suas gentes!

Argentina, Chile e Peru (2007)

Partimos a 8 de Julho de 2007, naquela que seria a maior e mais longa viagem realizada até então. E não era para menos pois seriam cerca de 30 dias para visitar países tão distantes e grandiosos como a Argentina, o extenso Chile ou o acidentado Peru.
A viagem começou com algumas peripécias pois o caos que se vivia no tráfego aéreo da América do Sul nesse ano levou a que ficássemos uma noite em Madrid para no dia seguinte podermos rumar até Buenos Aires na Argentina.

Argentina

Chegados a Buenos Aires perto da meia-noite já tínhamos o hotel marcado (Mari Plaza) e apanhámos um táxi desde o aeroporto. Na viagem, de cerca de 20kms, íamos tendo um acidente e grave onde o condutor do táxi distraído fez uma rasante a um carro que subitamente estava parado em plena auto-estrada. Foi um susto que demorou mais de uma hora a esquecer. Por momentos imaginei esta viagem terminada mesmo antes de começar. Mas parece que a sorte estava do nosso lado e nada de grave aconteceu desde aí.
Só na manhã seguinte pudemos visitar Buenos Aires e sentir também as baixas temperaturas que se fazem sentir nessa altura do ano. A capital argentina revelou-se ainda mais apaixonante e envolvente do que estávamos à espera. Este deve ser o local mais parecido com a Europa fora do velho continente, e a tantos milhares de quilómetros de distância. Será em grande parte devido à religião mas também à arquitectura europeia dos edifícios, às feições dos rostos na rua, as roupas e tendências de moda de quem passa por entre a multidão.




































A cidade emana um ar muito clássico, muito limpo, com todos os apaixonantes cafés e danceterias e suavemente embalada pelo ritmo romântico do Tango que outrora deu um ar ainda mais envolvente e cinematográfico a esta cidade. Temos ainda muitos pontos de interesse para visitar onde se incluem as grandiosas catedrais e edifícios estatais, as danceterias de espectáculos de Tango e claro… o Bairro da Boca! A Boca é um local perto do porto da cidade que dali se desenvolveu e cresceu sendo uma zona um pouco perigosa após o anoitecer mas que encerra a parte mais viva, mais vibrante e mais alegre de toda a cidade. Durante o dia e nas zonas mais movimentadas não existe qualquer perigo. Vive-se a paixão pelo futebol com os murais do Rei Maradona e com o estádio do Boca Juniores ali tão perto e também a paixão pelo tango que se ouve e dança pelas ruas. El Caminito também é um local de culto e obrigatório nesta zona. É certo que é um pouco turístico mas permite viajarmos um pouco no tempo e conduz-nos para um ambiente algo místico onde os ritmos do tango animavam a vida das gentes pobres que viviam da actividade portuária.


































As casas coloridas com chapas de zinco têm a sua origem nos restos de chapas e tintas de cores berrantes que sobravam das pinturas e reparações dos navios. Buenos Aires é uma das capitais mais desenvolvidas de toda a América Central e América do Sul.
Mas não deixámos esta vibrante cidade sem antes eu ter conseguido perder a carteira com algum dinheiro e com todos os cartões de crédito e cartões bancários. Felizmente o passaporte estava com a Ana, bem guardado!
Tal como nas restantes viagens que iríamos fazer utilizamos o autocarro para nos deslocarmos pelo país. São muitos e bons os autocarros que percorrem toda a Argentina. São autocarros de luxo com cadeiras-cama rebatíveis e até serviço de hospedeira com refeições a bordo. Viajámos sempre de noite para aproveitarmos o tempo ao máximo e ainda poupávamos no alojamento. A Argentina quase não tem comboios, o que não se percebe dadas as extensas planícies que dominam neste enorme território.
A nossa primeira viagem desde Buenos Aires foi com destino a norte, para Puerto Iguaçu para podermos visitar as famosas Cataratas de Iguaçu. A viagem durou umas 13 horas pois os quilómetros eram muitos. Na pequena cidade de Puerto Iguaçu ficámos no El duende Rojo, um pequeno e simples albergue com alguns dos quartos partilhados, com cozinha comum e um pátio que permite sempre o convívio entre os turistas e para conhecer pessoas de todos os cantos do mundo. De autocarro local partimos para o Parque Nacional de Iguaçu. Não é necessária uma excursão organizada, basta apanhar o autocarro na estação. As cataratas de Iguaçu não são as mais altas mas são as mais extensas do mundo e umas das mais bonitas pois estão rodeadas pela floresta tropical. Servem também de fronteira entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai. Os 3 países ali tão perto separados por alguns metros de quedas de água. Ao entrarmos no parque e ao aproximarmo-nos das quedas de água o incrível barulho da agua chegava a assustar.





































No ar viajam os borrifos e a frescura da água transportada pelo vento. As quedas de água sucedem-se e algumas atingem quase uma centena de metros de altura. Destaque para a Garganta do Diabo que “engole” de uma maneira assustadoramente bruta milhares de metros cúbicos de água por minuto. Por entre a selva que rodeia a área podemos ver muitos animais, insectos, repteis e ainda os curiosos e atrevidos tapuis.
Não visitámos as cataratas do lado brasileiro mas a sensação com que ficámos é que do lado argentino elas são mais extensas e com mais motivos de interesse.
Um dia, dois dias chegam para visitar as cataratas que valem todos os quilómetros e horas de caminho… pela grandeza e pela força pura e bruta da natureza no seu estado mais indomável. É sempre um espectáculo inesquecível!






















De Puerto Iguaçu rumámos de novo a Sul para Puerto Madryn no extremo sul do país. Foram alguns milhares de quilómetros e 42 horas de viagem (sim… 42 horas). Aqui compensa seriamente uma viagem de avião em voo interno!
Puerto Madryn fica na Península Valdés, na Patagónia Costeira. A cidade é tipicamente sul americana , com ruas largas perpendiculares, muitos cartazes publicitários, casas baixas… mas muito pacata e acolhedora.
Esta zona da Patagónia é incrivelmente rica em fauna e diversidade animal, principalmente as espécies costeiras, desde aves a pinguins, focas, orcas, baleias, elefantes marinhos, lobos marinhos, etc. É como estar num programa do BBC Vida Selvagem… incrível e inesquecível! E nem é preciso alugar um barco ou fazermo-nos ao mar para avistar baleias, focas, lobos marinhos, pinguins. Basta alugar um táxi ou uma bicicleta e percorrer a costa. As baleias, numa determinada hora das marés pode-se avistar a 10-15 metros da areia da praia de El Doradillo e com qualquer maquina fotográfica simples sacamos umas fotos incríveis.






























Nos meses de Agosto e Setembro não é fácil avistar pinguins e orcas pois estas espécies emigram para regressarem nos meses mais frios. A baleia franca austral é a mais comum, bem como os lobos marinhos e os elefantes marinhos. Ficamos horas a observar as numerosas populações destes animais vendo como interagem uns com os outros, como protegem as crias, como se alimentam, como disputam o seu pequeno espaço… O interior da Patagónia é árido e ventoso, uma das zonas mais inóspitas da terra com a sua beleza singular e rude.

De Puerto Madryn partimos para Oeste no interior com destino a Bariloche, a zona dos lagos gelados e a zona de estancias de sky mais famosas de toda a América. Foram cerca de 6 horas de viagem onde a neve ia pintando de branco todo o cenário e ia acumulando alguns metros de altura nas bermas da estrada. O frio é intenso e difícil de suportar. A cidade de Bariloche é fortemente voltada para o turismo, na sua maioria brasileiros, mas também é uma cidade que faz lembrar as estancias suíças ou Alpes franceses. Está rodeada de lagos lindíssimos que pincelados com o branco da neve criam paisagens dignas dos mais belos postais de inverno. Fizemos um cruzeiro entre os vários lagos circundantes, a bordo do antigo e histórico barco “Modesta Vitória” onde já viajou Che Guevara na sua épica travessia de moto pela América do Sul.


















Nem as temperaturas negativas retiraram a beleza do local e a beleza das paisagens que íamos contemplando neste passeio.
Por todo o lado encontramos um café, em restaurante, uma casa de chá, uma fabrica de chocolate muito acolhedores com as suas reconfortantes lareiras e quentinhos submarinos (leite com chocolate quente). Em Bariloche tivemos 3 dias, 2 noites e partimos para a fronteira com Chile a pouco menos de 80kms.



















No Chile
A nossa primeira paragem foi perto da fronteira com a Argentina, em Osorno, uma cidade simples com o movimento normal de uma cidade fronteiriça. Ficámos apenas uma noite, de passagem para o norte e rumo à capital, Santiago do Chile. Em Santiago deparámo-nos com bastantes dificuldades para encontrar um bom hotel para pernoitarmos.










O Chile é dos países mais caros de toda a América do Sul. Em Santiago temos apenas os hotéis realmente bons mas muito caros e os realmente “maus” com qualidade bastante inferior e não tão baratos quanto isso. Ficámos num hotel um pouco bera, num quarto muito escuro, sem janelas, sem aquecimento (e os dias são muito frios nesta altura do ano), a porta não trancava e fazia-nos companhia uma velha televisão digna de um museu que… não funcionava. O único aspecto interessante deste hotel era a cozinha do pequeno-almoço onde éramos nós que o confeccionávamos e que ficava no terraço envidraçado com uma vista muito boa sobre parte da cidade. Foi mais uma aventura engraçada! Santiago é uma cidade impar principalmente por estar rodeada pelos picos andinos cobertos de neve, que lhe proporcionam uma paisagem surreal e bastante romântica.
































É uma cidade plana com muitos traços e vestígios da arquitectura colonial europeia, mais concretamente espanhola da era do distinto conquistador Pedro de Valdevia. No entanto não é tão charmosa como Buenos Aires pois é mais “fria”, um pouco mais suja e poluída, menos segura mas reserva muitos encantos prontos a serem visitados. O Mercado Municipal principal é muito interessante e podemos comprovar a diversidade de frutas, legumes e peixes dos territórios chilenos.










Tanta é a variedade de peixe e marisco existente que chega a superar os nossos melhores mercados e lotas. Almoçar ou petiscar num dos muitos restaurantes deste mercado é uma excelente opção ainda que um pouco mais dispendiosa. Outros pontos de interesse são: a casa do escritor Pablo Neruda, a Igreja da Sé Catedral ou o funicular ascensor que nos permite ver a cidade de cima e contempla-la tão bem plantada no sopé dos Andes gelados. É curioso ver o manto negro da poluição dos carros que paira sobre os prédios mais altos desta grande cidade. Faltou por realizar uma viagem à “muy cerca” vila costeira de Valparaiso, que serviu de inspiração a tantos e conhecidos escritores chilenos. De Santiago viajámos para norte direitos ao Deserto de Atacama, mais concretamente San Pedro de Atacama. A viagem foi de autocarro relativamente moderno mas sem aquecimento. Foram cerca de 14 horas de viagem com o sono muitas vezes interrompido pelo constante “Pollo al horno” gritado pelos vendedores que entravam no autocarro nas muitas paragens pelo caminho. Não nos vamos esquecer do tão famoso “Pollo al horno” (pedaços de frango no forno)! Pelo caminho apercebemo-nos da maior riqueza do Chile mesmo sem a vermos: o cobre. O Chile é o maior exportador de cobre do mundo e este metal tem vindo a ser extraído nas muitas e enormes minas chilenas, enriquecendo o país.
O Deserto de Atacama é o deserto mais alto e mais árido do mundo pois as correntes marítimas do Pacifico não conseguem passar a altitude das montanhas andinas. San Pedro de Atacama é uma conhecida e turística vila do deserto e permite explorar as belas zonas circundantes. Temos vulcões, lagos de sal secos, aldeias ayamaras, gheisers... e acima de tudo uma esplendorosa e singular paisagem desértica quase extra-terrestre.




































De dia faz bastante calor, mas suportável nesta altura do ano, e à noite a temperatura pode descer até aos 0 graus. Fizémos uma viagem de 4x4 pelas zonas mais interessantes e destaco a beleza inesquecível do pôr do sol no lago salgado do Salar de Atacama. Muitas são as fotos que se tiram nesse momento com os muitos flamingos rosa que, elegantemente completam a paisagem. O céu fica completamente vermelho como que manchado de sangue vivo! Isto não é exagero: É o mais belo pôr-do-sol a que já assisti e relembro-o muitas vezes!




































Na vila de San Pedro a oferta de hotéis, albergues, campismo e restaurantes abunda e a própria vila dispõe também de alguns pontos de interesse nomeadamente a pitoresca igreja e o museu da vila com muitos artefactos dos povos do deserto, incluindo múmias e toda a história envolvente. Eram povos muito ricos e desenvolvidos para a época quase rivalizando com os Maias e Incas.

Peru
De San Pedro apanhámos mais um autocarro nocturno até à fronteira com o Peru. Chegámos de manhã e para passarmos a fronteira temos que ir em táxis peruanos, muito velhos compartilhados por mais pessoas e num clima estranho que parecia quase ilegal e de espionagem. Pagamos 1º e lá vamos com uns peruanos carrancudos e pouco simpáticos numa estrada degradada e num carro velho. É notória a maior desorganização das entidades Peruanas logo na fronteira. É outro país à parte mas mais perto da verdadeira América do Sul sub-desenvolvida. Já no Peru fomos de autocarro até Puno. Há que escolher bem um autocarro mais ou menos moderno e turístico pois caso contrário demorarão o dobro do tempo com o triplo do “sofrimento”. Puno é uma cidade relativamente tranquila, com algum movimento típico das cidades sul americanas mas o seu ponto forte é servir de base para exploração do Lago Titicaca.



















O maior e mais elevado lago navegável do mundo. É um lago enorme com muitas ilhas com povos muito singulares e interessantes para visitar. Contratámos uma agência em Puno uma excursão de 2 dias de barco pelo lago com visitas às ilhas flutuantes dos Uros, Ilha Amantani e Ilha Taquille. Os habitantes destas ilhas fugiram para o lago aquando as conquistas espanholas e como tal preservaram a sua rica e distinta cultura bem como alguns aspectos da sua religião pois é uma mistura de cristianismo com devoção aos deuses da terra ou mesmo animais. Ao chegarmos à ilha de Amantani somos distribuídos em grupos de 2-3 pessoas por cada uma das famílias locais para passarmos a noite nas suas casas e tomarmos as refeições com eles. A nós calhou-nos a família da simpática Violeta. É uma experiência fantástica e quase única na vida que nos faz relembrar a importância das pequenas coisas e das coisas mais simples. Não há carros, não há electricidade, WCs, agua canalizada, cafés, bares ou restaurantes. Mas temos a riqueza e a simpatia daquelas famílias onde os mais antigos nem sequer falam espanhol, apenas o queshua.








































Lavamo-nos com agua do alguidar, e comemos junto ao lume onde nos fazem uma deliciosa sopa, uns tubérculos com queijo gratinado acompanhado com um chá de coca. Apesar de muito simples as condições de higiene são sempre garantidas pois é um dos requisitos dos agentes turísticos. Convém levar sempre de Puno alguns artigos necessários para as famílias (sal, açúcar, arroz, massa) e alguns pequenos brinquedos ou livros para as crianças.
A altitude pode ser uma dificuldade para os turistas e as dores de cabeça e tonturas podem ser frequentes pelo menos nos 1ºs 2-3 dias até nos habituarmos. Mascar folhas de coca ou beber o seu chá é uma das soluções e usada pelos nativos desde sempre. Não há que ter medo, são apenas folhas e não é nenhuma droga, nem sentimos qualquer efeito dopante. É um vasodilatante muito útil para a altitude e faz parte da própria cultura destes povos andinos desde há séculos. Ainda em Amantani vestimos umas roupas coloridas tradicionais e fomos para o único local da aldeia onde tinham um gerador e uma banda a tocar. Era um bailarico típico, ainda que preparado para os turistas que pernoitavam na ilha, mas foi engraçado e animado e uma boa oportunidade para conviver com os locais. De seguida tivemos a oportunidade para presenciar uma festa religiosa bem mais típica, com as pessoas a saltarem fogueiras enquanto entoavam cânticos e dizeres queshuas. No dia seguinte embarcámos para a Ilha Taquile de costumes mais vincados e arquitectura mais rica. Os homens não se cumprimentam com um simples “Bom dia” mas sim com a troca de 2-3 folhas de coca que tiram das suas bolsas bordadas e recebem-nas nunca directamente com as mãos mas sim num canto dos seus mantos coloridos ou lenços. Nesta ilha são os homens que tecem a lã e tricotam os mantos, barretes, faixas, lenços, etc. Estas faixas que enrolam na cintura têm um padrão diferente por cada família e passam de pais para filhos durante muitos anos. As mulheres tecem a lã que extraem das alpacas (um lama mais domesticado) e dos próprios lamas. Depois são tingidas com as mais variadas e vivas cores que dão a característica própria a todo o Peru, Bolivia ou Paraguai.


















Estas ilhas foram uma agradável surpresa e superaram as nossas expectativas. Retornando a Puno, acordamos com a notícia do grave sismo registado em Lima e na zona de Nazca. Teve uma magnitude de 8 graus na escala de Ritcher e fez cerca de 600 mortos o que deixou em pânico os nossos familiares em Portugal. Já informados e tranquilizados prosseguimos para Cusco, a capital Maia. Fomos de autocarro com um recente amigo de viagem italiano: Francesco, que nos acompanhou até ao final da viagem. Há a possibilidade de fazer esta viagem de comboio onde a paisagem, dizem ser incrível e altamente recomendável. É um pouco mais cara e demorada e como tal optámos pelo autocarro e fazer de dia dando assim para gozar da bela paisagem na mesma.
Cusco situa-se nos 3.400 mt e goza de uma mistura muito interessante da cultura espanhola e os Incas. Muitos dos edifícios espanhóis estão construídos sobre os resistentes alicerces Incas. Por todo lado vamos tropeçando nos vestígios destas 2 culturas tão distintas, sendo que maioritariamente prevaleçam os edifícios do colonismo espanhol como a catedral, as igrejas, edifícios públicos, e mesmo as habitações.







































É fora de Cusco que surge o maior e mais vasto legado do Império Inca. Os Incas expandiram-se por grande parte da América do Sul (Equador, Peru, Bolivia, Argentina, Chile) durante o ano de 1200 até 1530, aquando as conquistas espanholas. Povo muito evoluído e poderoso, sábios da agricultura, irrigação, arquitectura, astronomia. Veneravam o deus Sol, o Deus Terra (Pachamama) e Pachapapa. Existem excursões organizadas ou se pretenderem podem ir completamente à aventura, partem de Cusco com destino obrigatório a todo o Vale Sagrado dos Incas. Aqui temos: as ruínas de Pisac, Ollantaytambo, a simpática aldeia de Chinchero e o conhecido Machu-Pichu. Para mim Pisac é ainda mais bela e rica que Machu-Pichu e igualmente magica. Ao chegar a estas ruínas e por entre um nevoeiro fugaz, entoava no vale o som de uma flauta peruana que automaticamente serviu como maquina do tempo e me catapultou para uma época onde aquelas grandiosas construções estariam habitadas por milhares de incas numa sociedade disciplinada e organizada. Era exactamente aquilo que eu vinha à procura e ambicionava e agora… estava ali!


















Chinchero é uma linda e simpática aldeia com uma igreja que tem no tecto os únicos frescos incas do mundo numa estranha mistura de queshua com cristianismo. A cidade de Ollantaytambo também é muito interessante e revela toda a capacidade e sabedoria agrícola dos Incas, bem como as avançadas técnicas de arquitectura e de irrigação. De volta a Cusco dá para recuperar energias e descansar pois a cidade é muito calma e tem todas as infra-estruturas turísticas necessárias com bons albergues, bons restaurantes, bares, igrejas e museus para visitar. Destaco o Museu Inca com a melhor e mais vasta colecção do mundo sobre este povo, o mercado local, as muitas igrejas dispersas pela cidade, o Convento de Santo Domingo construído sobre as ruínas Incas e a Catedral principal com todo o seu altar em ouro maciço (dá para imaginar a quantidade de ouro que os espanhóis encontraram nestas terras pois as igrejas são riquíssimas). Pena que se explore um pouco o turista pois para tudo é necessário pagar, inclusive qualquer simples igreja… é um abuso!
Abuso é também a exploração para se poder visitar o Machu-Pichu. Então é assim: Machu-pichu está a cerca de 50kms de Cusco e só há 2 formas de o alcançar: de comboio ou a pé, nos famosos trilhos Incas. Existem 2 comboios mas os turistas só podem ir num deles pois o outro é para os locais. O dos turistas custa cerca de 80 euros (?!?!?) ida e volta e o dos locais, qualquer coisa como 3-4 euros. O comboio tem a sua paragem final em Aguas Calientes, que é a vila no sopé de Machu-Pichu e depois saímos em autocarros normais até lá acima (12 dólares ida e volta). Para entrar no Machu-Pichu desembolsamos cerca de 25 euros. Podem-se adquirir os bilhetes no próprio complexo sem grandes complicações pois grande parte já trás os seus bilhetes. Existem muitas agências em Cusco que organizam toda a viagem, com entradas e tudo. Eu fiz por minha conta mas não poupei muito dinheiro com isso (apenas cerca de 15 euros). Uma nota muito importante para quem opta pelo comboio é que tem que marcar esta viagem o mais cedo possível e assim que chegar a Cusco ou mesmo antes pois o comboio esgota sempre nos 2-3 dias seguintes. Para fazer o trilho a pé (excelente aventura), contacte uma das agências de Cusco que dispõem de 2 opções: 4 dias de caminhada ou ir nas carrinhas dos Tours turísticos até metade do caminho e fazer apenas 2 dias de caminhada. A paisagem até Machu-Pichu é incrível e muito bela e a pé dá para desfrutar ainda mais.
Já em Machu-Pichu, uma das 7 novas Maravilhas do Mundo, a principal beleza é a própria paisagem envolvente pois esta antiga cidade descoberta apenas em 1930, está situada no cume de uma montanha (2.400 mt) cercada por verdejantes vales e por outros cumes rochosos. Rodeada de um nevoeiro ligeiro que lhe dá um toque mágico e misterioso.












































Alguns dos edifícios estão muito bem conservados e só lhes falta os tectos. Temos templos de devoção ao sol, calendários astronómicos esculpidos na rocha e temos as casas dos vários estratos sociais da altura. É mesmo uma das maravilhas do nosso planeta e merece essa distinção! Pena é que, a afluência de turistas é imensa e exagerada e vai, de certeza, comprometer a preservação deste importante património. De Cusco, fizemos a longa viagem de regresso para Portugal. Voámos de Cusco para Lima, nem saímos do aeroporto e embarcámos num voo para Buenos Aires. De Buenos Aires voámos para Madrid e de Madrid, finalmente para Portugal…. Ufffff!!! Foram mais de 30 horas em viagem mas obviamente valeu a pena e ficam recordações e memórias para toda a vida: as baleias, as focas, os leões marinhos e a beleza das paisagens da Patagónia Argentina, o Deserto de Atacama no Chile, o pôr do sol no lago salgado de Atacama, a simplicidade e hospitalidade dos peruanos do Lago Titicaca, a riqueza da cultura Inca, Cusco, Pisac, Machu-Pichu…