terça-feira, 16 de junho de 2009

Itália e Grécia (2001)

Em Agosto de 2001, imediatamente após a conclusão do meu curso universitário e cerca de mês e meio de trabalho árduo na empresa de um amigo, optei por celebrar tal facto com a minha 1ª viagem de mochila nas costas em busca dos merecidos momentos de evasão e de aventura. Como o dinheiro ganho em mês e meio não era assim tanto escolhi uma viagem por Itália e Grécia!
Juntamente com a minha namorada na altura embarcámos num avião até Milão.

Milão
Chegados à cidade e sem hotel marcado acabámos por ficar condicionados a um alojamento mais caro do que prevíamos e ficamos apenas uma noite. Deste modo não explorámos praticamente nada desta cidade economicamente e industrialmente mais rica de Itália embora não tão rica em termos históricos e cultura antiga como se revelaria o restante país.

Veneza
Partimos de comboio, por certo o melhor e mais rápido transporte a utilizar e rumámos a oriente para a apaixonante e romântica Veneza. Acabámos por ficar alojados num parque de campismo numa localidade a cerca de 20 kms da cidade da qual não me recordo do nome. Correndo o risco de cair na vulgaridade de mais um comentário sobre o romantismo de Veneza, não existem dúvidas que esta cidade é realmente singular e uma encantadora novidade aos olhos de quem a visita pela 1ª vez. Visitei-a em pleno Agosto e não me apercebi dos tão falados incómodos da poluição e dos cheiros muito comentados entre os conhecidos e amigos que aqui já estiveram. Creio que depende muito das marés na altura em que se visita. Talvez nesta data tenha tido a sorte de apanhar sempre as marés mais altas e menos propícias aos odores dos canais. A única contrariedade é a quantidade enorme de turistas que visitam esta cidade durante todo o ano. Aparte disso é muito interessante vermos que todo o tipo de actividade se faz através dos milhentos canais e rios que atravessam Veneza ao virar de cada esquina: os táxis, os autocarros, as ambulâncias, os correios, os médicos… tudo, tudo em barcos… não existe qualquer carro a circular pelas ruas! O meio de transporte mais utilizado é mesmo as nossas próprias pernas e os boatbus (barcos de transporte público) que são relativamente acessíveis contrastando com a exorbitância (cerca de 60 a 100 euros não me falhando a memória) que nos pedem por um passeio nas típicas e românticas gôndolas, um preço demasiado elevado para o simples mochileiro. Foi muito agradável perdermo-nos por entre o labirinto de ruelas, canais e pontes principalmente aqueles mais afastados dos pólos mais turísticos! De quando em vez deparávamo-nos com um pequeno e tranquilo largo ou praceta onde aproveitávamos para descansar. A quantidade de pequenas e grandes igrejas é enorme bem como edifícios muito, muito antigos (alguns deles até demais, que parecem cair a qualquer momento). Outra boa experiência é escolher uma pequena mesa de esplanada junto a um dos canais menos concorridos e desfrutar de uma refeição ou de uma bebida enquanto assimilamos a originalidade da própria cidade. Após pesquisar bem por entre os menus expostos encontrámos uma destas esplanadas com preços bastante normais comparados com o resto do país.

Florença
Mais uma vez de comboio, partimos para Florença, capital da bela Toscana. Ficámos alojados no parque de campismo Michelangelo a norte da cidade num monte com uma vista incrível e acessível da nossa própria tenda e que nos permitia fácil e rápido acesso a visitar a bela Florença. É uma cidade mágica que transpira de história, cultura e da mais rica arte renascentista de toda a Europa! Em cada esquina se evocam a vida e obras dos mais consagrados artistas de todo o mundo como Michelangelo, Leonardo da Vinci, Giotto, Masaccio, Donnatello e outros. Pontos de visita obrigatória são a Catedral Santa Maria del Fiori, o Palazzo Vecchio, a Ponte Vecchio, Palazzo Strozzi e… talvez todas as ruas, praças e pontes da cidade pois a história e riqueza arquitectónica abunda e envolve-nos mesmo que não a procuremos. Praticamente não vemos um edifício moderno em toda a cidade e a viagem no tempo para a era medieval ou renascentista só é quebrada pelas milhentas vespas e aceleras que circulam um pouco por todo o lado ou pelas vestes modernas dos muitos firenze ou turistas que se passeiam ou descansam nas movimentadas praças. É das cidades mais belas de todo o mundo!
Deixando a Toscana e os seus belos campos de vinhas e oliveiras partimos para Roma. Aqui permanecemos num hotel de qualidade inferior mas nem por isso muito barato para o bolso do português mochileiro. Aliás, a vida em toda a Itália não é nada barata pois a alimentação e o alojamento estão bem acima dos padrões portugueses. Por exemplo uma refeição mínima de uma simples sandes rondava os 5 euros ou um café ou outra bebida a 2 euros. A gastronomia italiana é muito boa para quem aprecie as pastas ou as pizzas mas menos rica em variedade e lembro apenas de um prato de lombinhos de novilho designado de “Saltimboca a la romana”, bastante apetitoso. E até as pizzas, por vezes não são aquilo que esperávamos em Itália pois conheço sítios em Portugal com pizzas bem melhores!

Roma
Em Roma impera o caos, pelo menos na imensa agitação de carros, motoretas e pessoas que se cruzam a toda a hora em grande parte da cidade, isto para não falar da maneira como os italianos conduzem, em muito semelhante ao típico tuga!!! Mas em Roma temos também o expoente máximo do vestígio de uma das épocas históricas mais marcantes de todo o mundo, bem como de uma das civilizações mais poderosas de todos os tempos: O Império Romano!
Na chamada “Cidade eterna” é absolutamente fantástico poder caminhar sobre calçadas e passeios percorridos, há mais de dois mil anos, pelos mais poderosos imperadores e guerreiros da época Romana! Dá ideia que cada pedra que pisamos ou tropeçamos tem uma história riquíssima para contar. O Coliseu de Roma é um marco dessa época e a sua beleza, ou melhor, simbolismo fazem-nos esquecer de todas as injustiças, carnificinas e atrocidades ali vividas. Bem perto do Coliseu temos um espantoso complexo arquitectónico romano onde se engloba o Fórum Romano, principal centro de comércio da Roma Imperial que por sua vez inclui o importante templo de Saturno e muitos outros. Saliente-se outros grandes pontos de interesse como o Castelo de Santo Ângelo, o Panteão, o Fórum de Trajano, a famosa escadaria da Praça de Espanha ou ainda a Fonti di Trevi!
É incontornável a visita à cidade-estado do Vaticano, o menor estado independente do mundo! Residencial do Papa e maior símbolo da Igreja Católica, engloba monumentos tão belos como a Basílica de São Pedro, a Praça de S. Pedro, a Capela Sistina ou o museu do Vaticano. A Basílica de S. Pedro é absolutamente fantástica e a subida a pé até ao topo do edifício será compensada por uma vista esplendorosa sobre toda o Vaticano. É muito importante ver qual o dia em que a Capela Sistina está encerrada pois foi exactamente o dia em que estávamos de visita ao Vaticano! Pois… já tenho uma desculpa para voltar a Roma! Relembro ainda uma especial precaução com os muitos carteiristas, principalmente nos transportes públicos da cidade!
De Roma, e mais uma vez de comboio, rumámos a Bari! Não para visitar a cidade, que decerto valeria a pena mas para embarcarmos num enorme ferry boat com destino a Atenas, na Grécia.
Era um autêntico barco de cruzeiro com quartos para todas as carteiras embora o nosso orçamento desse apenas para o 1º convés com lugares sentados. Dispunha ainda de casino, lojas, restaurantes com acesso a todos os passageiros. Com a ajuda de um saco de cama podemos encontrar um cantinho no chão e dormir um pouco.

Grécia
A viagem dura mais de 15 horas pelas belas águas de azul turquesa do Mar Adriático e seguido pelo Mar jónico. Um céu imenso e estrelado acompanhou-nos no passar das horas em que não dormíamos. Chegados a Patras, o porto de partida para Cefalônia , deparámo-nos com as maiores dificuldades da viagem, nomeadamente na tentativa de obter informações, nos transportes, alimentação, etc.
A Grécia não estava, nessa altura, muito preparada para receber o turista. À excepção da poderosa e eficiente rede de ferrys e transportes por mar, o restante encontrava-se bem mais atrasado que Portugal. Recordemos que em 2001 a Grécia era o pior e o ultimo país na maioria dos índices da União Europeia dos 12. A população na rua não parecia, também estar muito motivada e preparada para receber e agradar ao visitante estrangeiro. Cefalônia é uma ilha ainda no Mar Jónico e embora pouco conhecida e voltada para o turismo era realmente bela e com bons pontos de interesse histórico e algumas boas praias. Esta ilha foi palco da ocupação italiana na 2ª Guerra Mundial e palco do conhecido filme “Capitão Corelli” que retrata esse mesmo episódio em que os Italianos se recusaram a entregar as armas aos seus ex-aliados alemães sofrendo uma perda de cerca de 5000 homens. Da Cefalônia partimos de comboio para Atenas.
A visita a Atenas durou apenas um dia inteiro pois o nosso objectivo seria continuarmos para as ilhas. Também, não creio que existam assim tantos motivos de interesse para visitar em Atenas… e perdoem-me se estou a ser ignorante, mas não gostei muito da cidade á excepção do que restava da época de ouro desta antiga civilização como a Acrópole. No regresso ao porto de Pyreas passei dos piores momentos de todas as minhas viagens quando durante mais de uma hora pretendia saber apenas onde poderia apanhar um autocarro até ao porto e ninguém falava inglês e nem se mostravam interessados em ajudar! O que mais me marcou foi um policia que me “enxotou” violentamente e com desprezo como se fosse um cão. Já estava a desesperar por completo em pânico, não fosse uma rapariga a parar e ajudar-nos a ir até à bilheteira para traduzir. Foi complicado!
Dormitámos junto com mais de 20 estrangeiros ao relento no porto pois o barco apenas partia pela manhã. Nem uma estrutura de abrigo existia para a empresa que tínhamos escolhido. Já no barco todos os problemas e complicações recentes passaram automaticamente pois estávamos a caminho das ilhas de Syrus e Tynos, 2 das 56 ilhas das Ciclades. Escolhemos 2 das menos conhecidas fugindo às comerciais e agitadas Mykonos e Santorini. Existem mais de 100 ilhas gregas e dada a sua reduzida dimensão optámos pela tranquilidade e pelas mais pitorescas. Ainda assim é possível vermos turistas italianos por toda a parte sendo os principais “clientes” do turismo do país. E não me lembrando do nome dos locais, dos hotéis, restaurantes e dos principais pontos de interesse retenho apenas que o clima destas ilhas é muito seco e muito parecido com o nosso Alentejo profundo: casas baixas, toscas, caiadas de branco, ruas estreitas por onde passeiam os velhotes com os seus burros, muitas oliveiras, giestas, figueiras… tudo como o mais típico Alentejo sendo a grande diferença o facto de estarmos rodeados de agua por todos os lados e ainda as igrejas católicas substituídas por igrejas ortodoxas. Até os velhotes sentados nas praças e bancos de ruas com as suas vestes pretas e muito parecidas com o nosso Alentejo ou ainda a gastronomia baseada no tomate, o pimento, a azeitona, o azeite e a cebola eram como se nunca tivéssemos saído de Portugal. Alugando uma motoreta podíamos explorar o interior das ilhas e chegar a praias fantásticas quase paradisíacas com uma agua incrivelmente transparente tingida de um azul turquês que não estamos habituados. Não é tão fácil encontrar praias de areia branca pois algumas são de pedra ou areia mais escura mas a cor e temperatura da água suprimiam esse facto! Foi muito engraçado entrar em alguns estabelecimentos onde éramos transportados numa viagem no tempo pois não existiam caixas automáticas, o dinheiro era guardado numa caixa de madeira acessível a todos, as balanças eram autenticas peças de museu e no meio existia normalmente uma enorme pipa de azeite com um funil onde as pessoas é que se serviam avulso. Não esperávamos esta realidade e tantas parecenças com o Portugal mais profundo ou Portugal de outros tempos mas foi muito agradável mesmo. As pessoas eram também mais simpáticas que no continente.
No regresso da viagem voltámos de barco até Atenas, depois até Bari e depois de comboio de novo a Milão onde tínhamos o nosso voo. Lembro-me ainda que o dinheiro no regresso estava contado e, após já termos vendido a velha tenda e sacos de cama para pagar a nossa ultima noite em Syrus, havíamos comprado um bilhete para um comboio mais lento e estávamos no comboio errado. O revisor, intransigente, queria obrigar-nos a pagar o suplemento ameaçando com a policia e nós não dispúnhamos desse dinheiro sendo um italiano a nosso lado que amavelmente se prontificou a pagar (eternamente agradecido a esse desconhecido). A aventura continuou com a correria para chegarmos ao aeroporto a tempo do nosso voo que com alguma dificuldade lá conseguimos embarcar. Aqui reconheço que foi um erro termos o voo de regresso de novo em Milão pois obrigou-nos a fazer toda a viagem de regresso e perdemos muito tempo que pouparíamos, p. ex., se regressássemos por Atenas.
Mas outra coisa não espero destas viagens: Aventura!

Foi a minha 1ª viagem nestes moldes e que me deu para perceber que este é o tipo de turismo que eu mais gosto, que me permite um contacto mais próximo das gentes e modo de vida das pessoas bem como momentos, felizes ou de tensão, que jamais nos esqueceremos.
Gostei muito de Itália pela sua incrível riqueza histórica e artística, arriscando a dizer que talvez seja das mais ricas nações europeias neste sentido, e adorei as ilhas gregas pela pacatez e simplicidade das pessoas e pelo mar mediterrâneo que as envolve e lhes dá toda a cor.

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