quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Cabo Verde: Ilha do Sal

Em Abril de 2010 decidimos fazer uma escapadela de Páscoa e como o Inverno continuava rigoroso, nada melhor que recuperar forças… na praia. Mais acessível, relativamente perto de Portugal (cerca de 3 horas de voo, creio) e revelando uma boa relação preço-qualidade, Cabo Verde foi a opção escolhida.
Como dispúnhamos apenas de uma semana optámos por uma viagem totalmente organizada e a uma só ilha: Ilha do Sal. Em termos de praia é uma das melhores embora seja um pouco ventosa mas numa espreguiçadeira consegue ser bem suportável.





A areia dourada e fina e o mar de um azul belo e intenso fazem da Ilha do Sal um dos locais mais procurados. Proporciona-nos também um “cheirinho”muito ligeiro daquilo que é a cultura africana e o modo de vida tão típico de todo o Cabo Verde embora não seja a ilha ideal para obter essa sensibilidade e essa interacção com a sua cultura e costumes, mas também não era esse o objectivo inicial.



Fomos pela Abreu e ficámos no conhecido resort Oásis Belo Horizonte, em Santa Maria, muito frequentado por portugueses a par do RIU (mais uma estrela). O resort é composto por muitos bungalows bastante simples, sem grandes luxos mas com ar condicionado. Tem todas as infraestruturas necessárias: boas piscinas, 2 restaurantes, parque infantil, muitas actividades sempre a decorrer e boa animação à noite… mesmo não fazendo nada o meu género de férias.



Optávamos mais frequentemente por ir até à “cidade” de Santa Maria e ao pontão dos pescadores numa tentativa de absorver mais eficazmente a cultura e o modo de vida locais. Demos umas voltas a pé pelas ruas da cidade, mesmo as que ficam mais longe da avenida principal. Desde que o façamos de dia não há qualquer problema em nos afastarmos um pouco. Santa Maria está lotada de Senegaleses e Guineenses, que controlam mais de 95% das lojas e bancas de artesanato, o que é pena pois dificulta muito encontrarmos artesanato genuíno cabo verdeano.



A gastronomia local é uma autentica perdição pois para além dos pratos típicos de cachupa e xerém também temos muita variedade de peixe fresco e outros pratos de carne grelhada para quem não apreciar o restante. Fomos apenas com regime de APA mas quem vá com tudo incluído ou pensão completa não deve deixar de perder a oportunidade de ir até à cidade e ir a um dos bons restaurantes no centro. Destaca-se o conhecidíssimo Funaná. De salientar que a maioria dos restaurantes não é muito barato, e alguns pratos ultrapassam mesmo os preços de Portugal, em especial as bebidas.





Para além da boa praia e dos desportos náuticos relacionados (o windsurf , o kitesurf e o mergulho são muito procurados) também há a possibilidade de fazermos uma excursão de 1 dia inteiro pela ilha.



Não necessitam de optar pelas excursões dos próprios hotéis ou das operadoras, que nos são “impingidas” em sessões assim que chegamos ao hotel. São mais caras e levam entre 10 a 20 pessoas. Nós contratámos a nossa com um guia local numa carrinha pick-up simples só para nós (Carlos Tours – 00238-9897973). Ok! Não são guias licenciados ou profissionais mas para visitar esta ilha não é preciso mais pois não há praticamente edifícios ou locais históricos com muita cultura complexa a aprender. Aliás, os tours são todos muito parecidos e encaixam nas próprias limitações da ilha: visita à Calheta Funda, às salinas (tem que se pagar para entrar e apenas vale a pena se houver tempo para tal), cidade de Espargos, vila piscatória de Palmeira, um mergulho na piscina natural da Buracona e passagem pela zona mais desértica que permite ver as miragens provocadas pelo calor. Foi também muito interessante um restaurante familiar onde o nosso guia nos levou, bastante barato e com deliciosa comida caseira. Esta excursão tem o seu interesse e vale sempre a pena, nem que seja para “fugir” à monotonia da praia.



Resumindo, mesmo que Cabo Verde não seja assim tão diferente das nossas praias (a água tem uma temperatura um pouco mais agradável, é certo!) e mesmo que não disponha de muitas atracções turísticas é sem duvida uma excelente opção para quando ansiamos uma boa semana de praia, em pleno Inverno português ou mesmo quando o nosso clima não está favorável. É também um local encantador, muito relaxante, seguro e as pessoas recebem-nos muito bem. Para além da possibilidade de recarregarmos de baterias e podermos aproveitar uma excelente praia ficámos com uma enorme vontade de conhecer o restante arquipélago, principalmente os locais mais originais, tradicionais, culturais e típicos. Para uma próxima oportunidade!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Indonésia (Agosto 09): Java, Bali e Lombok

Bem sei que algures entre as imagens do massacre de Dili, da opressão do povo Timorense e a minha consequente revolta de adolescente proferi as sentidas palavras: “Odeio a Indonésia! Nunca comprarei nada fabricado na Indonésia! E, nunca visitarei este país!”.
Pois, mas o que é certo é que com o tempo já todos esquecemos dessa má reputação da Indonésia e das atrocidades por eles praticadas, inclusive o próprio jovem Timor que conta com este vizinho como um dos seus maiores parceiros económicos e mesmo o governo português que vem desenvolvendo parcerias com este país asiático aproveitando do seu poderio económico e estratégico nesta região do globo. Por outro lado este país com mais de 238 milhões de habitantes (4º mais populoso do mundo) é de uma diversidade cultural, geográfica e de biodiversidade incríveis dispondo das industrializadas Java às paradisíacas Molucas ou à intacta e completamente selvagem Papua Nova Guiné.
Assim, foi com a maior das naturalidades com que escolhemos este destino para mais uma aventura. E… em nada nos desiludiu, tendo pelo contrário, sido surpreendidos com o afecto e carinho deste povo, bem distinto da serenidade e algum “distanciamento” dos seus vizinhos tailandeses.
A Indonésia é um país maioritariamente muçulmano mas conta no seu tecido social com uma panóplia impressionante de religiões, culturas, tribos selvagens ancestrais e algumas facções mais extremistas que têm trazido constantemente a instabilidade a este território. No entanto, evitando essas zonas de conflito facilmente identificáveis e conhecidas, é um país bastante seguro para o turista.
A Indonésia é composta por 17.508 ilhas sendo Java a mais importante, a mais populosa e onde se situa a capital, Jacarta.

Jacarta
Foi na capital que aterrámos vindos de Frankfurt e foi aqui que iniciámos a nossa aventura por estas terras. Jacarta tem cerca de 18,5 milhões de habitantes tornando Java na ilha que apresenta a maior densidade populacional. É um país mais pobre que a Tailândia e reina um pouco a desorganização, apresentando alguns défices ao nível de infraestruturas, equipamentos, estradas e transportes.



Na própria capital tão depressa vemos uma bela avenida bem larga e limpa como vemos logo ao lado um canal com lixo e lixo acumulado ou uma rua sem qualquer saneamento, deteorada e com alguns montes de detritos pelas bermas. Jacarta não tem grandes pontos de interesse a visitar, pelo menos que me tenha apercebido. Aqui visitámos apenas o museu da cidade, a feira da fauna e da flora e alguns centros comerciais (que são muitos e enormes, mesmo que alguns deles sejam autenticas feiras de rua mas inseridas num edifício coberto.



Na capital ficámos no Ibis, previamente marcado pela net. Ao fim de 2 dias partimos de comboio para Yogyakarta. Os comboios rápidos são mesmo a melhor opção pois mesmo não sendo assim tão rápidos são mais eficazes que os autocarros pois as estradas são extremamente congestionadas e a viagem pode tornar-se muito cansativa.

Yogyakarta
Chegados à pacata e turística cidade de Yogyakarta não foi fácil encontrar alojamento e apenas sobravam alguns hotéis de renome bem mais caros. Lá conseguimos um quarto por um preço acessível, simples mas relativamente limpo e sossegado. A cidade tem bons restaurantes e uma intensa actividade comercial. Na agência de viagens Sosro comprámos uma pequena excursão a Borubudur, a maior atração da região.



Não é assim tão fácil ir de transportes e perde-se sempre algum tempo, e para mais os Tours são baratíssimos embora consistam apenas no transporte de ida e volta até aos locais estipulados e depois estamos por nossa conta. Borubudur é um imenso templo budista, o maior templo budista do mundo!



Data do sec. VIII e é como que uma pirâmide com vários níveis repletos de budas e outros relevos representando muitos episódios históricos do budismo. Vale bem a pena e melhor ainda se for bem cedo pelo nascer do sol. Traz-lhe uma magia muito espiritual.



Passámos ainda por uma loja/oficina de prata e pelo templo hindu de Prambanam. Este templo também é bastante interessante e é composto por 4 grandes torres ricamente esculpidas e preservadas mesmo que uma grande parte do edifício tenha sido destruído com o terramoto de 2006.







Na cidade de Yogyakarta também poderemos visitar as belas oficinas das famosas marionetas de sombra de Java e a fantástica feira das aves (preparem-se para ver muita bicharada estranha como insectos, répteis, morcegos, etc).





Foi nesta cidade e com o mesmo operador que contratámos a visita ao vulcão de Bromo. É aqui que entramos na Indonésia mais profunda pois os meios de transporte iam sendo cada vez mais “sui géneris”. Não se espantem de ir numa carrinha ou autocarro moderno e depois passarmos para uma velha carrinha com bancos de madeira atolada de bagagens no tejadilho. O alojamento foi numa pequena aldeia no sopé do vulcão num hotel até bastante razoável. Saímos às 4h da manhã num jipe, para subirmos a montanha e podermos apreciar o pôr-do-sol bem no cimo. Os turistas são muitos e a agitação é considerável. Mas depois, vale cada curva da longa subida pois as cores que os primeiros raios de luz trazem consigo põem a nu a beleza singular de um vulcão árido ainda com sinais de actividade.



Subindo mesmo até à cratera podemos sentir o poder do enxofre que pesa no ar e nos irrita a garganta e nariz. Mais uma vez somos presenteados com uma paisagem lunar muito bela. Java tem inúmeros vulcões que se tornam nas maiores atracções da ilha permitindo também aos amantes de caminhadas e montanhismo excelentes treks para explorar.







Do vulcão descemos de novo à vila de Probolinggo e Malang e aí aguardámos o autocarro para Ketapang e mesmo sem sair do autocarro atravessámos de barco para Bali. A espera em Probolinggo foi longa e algo tensa pois estávamos completamente sós e não tínhamos o apoio de nenhum operador e temíamos mesmo que não passasse nenhum transporte. Os ferrys, por seu lado, são geralmente lentos e de má qualidade mas é mais uma condicionante deste tipo de viagens e deste tipo de países.

Bali
Bali está inegavelmente no imaginário de todos os que gostam de viagens para locais paradisíacos e exóticos, e para os amantes do surf, claro! Bom… depois de ter estado na Tailândia, as primeiras impressões de Bali como um paraíso de praias foram rapidamente defraudadas pois apenas a costa sul dispõe de praias de areia e as poucas que são verdadeiramente boas estão incrivelmente exploradas e lotadas com hotéis, bares, discotecas e lojas, ou então estão restringidas a um resort de luxo com acesso muito limitado. Completamente desiludidos alugámos um táxi por umas horas e rumámos para o lado Este da Ilha para nos alojarmos em Candi Dasa, um local com menos praias de areia mas bem mais calmo.



Por aqui há muitas opções de alojamento sendo as principais em pequenos resorts de bungalows. Ficámos alojados no complexo Resort Prima Candidasa mas as opções são muitas e os preços variados. Usando como base esta bela e sossegada vila, deslocávamo-nos diariamente num jeep contratado para descobrirmos uma outra Bali: exótica, nativa, culturalmente rica… esta sim encantadora e apaixonante! O seu povo, maioritariamente hindu, é muito simples, simpático e super descontraidos. Os homens em tronco nu usam a sua toga típica, as mulheres com os seus saris ornamentam no cabelo uma bela e colorida flor. Por todo o lado (inclusive entrada de lojas, resorts, restaurantes) temos incensos acesos juntamente com flores, folhas de palmeira recortadas e arroz que os habitantes vão dispondo bem cedo, como ofertas aos deuses.



Os templos hindus são muitos por toda a ilha e as belas cerimónias vão-se sucedendo.



Destacam-se ainda a vila de Ubud com os seus artesãos e inúmeras lojas, as riquíssimas danças de Batubulan, o Templo de Goalawah, ou até ao vulcão Batur. É um clima muito pacifico e relaxante o que se vive quando conseguimos fugir à confusão das estâncias turísticas e ao intenso tráfego que se verifica um pouco por todo o lado. Os campos de arroz e os seus tradicionais trabalhadores complementam o encanto da ilha.








Bali foi para mim uma surpresa muito agradável mesmo após ter ficado desiludido como destino de praia. Assim, e como queríamos aproveitar e relaxar uns dias numa bela praia optámos por ir para Lombok, mais concretamente as pequenas ilhas Gili.


Lombok e Ilhas Gili
Mais uma vez usámos o ferry mas aqui as opções de voos internos são mesmo de considerar pois são muitas as companhias, algumas de boa qualidade e os voos são incrivelmente baixos (entre 20 a 50 euros). Em Lombok temos que ir a uma das agências do porto para assegurar o transporte em carrinha de 9 ou 12 lugares, para atravessarmos grande parte da ilha e podermos apanhar os pequenos barcos que finalmente nos levam às idílicas ilhas Gili. Assegurem-se se está ou não incluído o bilhete de barco e que o apontem no bilhete pois caso contrário os oportunistas no pequeno porte de embarque vão querer cobrar-vos esse serviço. Este porto é um pouco confuso e pode originar algumas situações de stress com alguém a tentar extorquir mais algum. Mas não vale a pena entrar em pânico pois ninguém fica em terra e o pior é mesmo ter de pagar uma pequena quantia (5 a 8 euros) por mais uma viagem. As Gili são 3 ilhotas ao largo de Lombok totalmente planas e onde temos apenas praia e as respectivas estruturas turísticas (hotéis, lojas, restaurantes e alguns bares): Trawangan (a maior das ilhas), Meno e Air (a mais pequena).





Não são permitidos veículos motorizados e as deslocações fazem-se a pé, de bicicleta ou de carroça pitorescamente decorada e puxada por cavalos. Primeiro tentámos a ilha Meno mas as opções de alojamento são menos e estavam esgotadas. Só encontrámos 1 hotel (Casablanca) mas as abundantes osgas nas paredes (coisa normal por toda a Indonésia) levaram a Ana a “forçar” a saída no dia seguinte até à ilha de Trawangan. Esta ilhota está mais explorada, tem muitas opções mas é bom que se chegue bem cedo pois esgotam em horas. Tem muitos turistas italianos pois há um voo directo de Itália para Lombok e muitos turistas australianos.





A ilha está um pouco turística mas ainda se mantém muito calma e basta andar 1 a 2 kms para ficarmos em pequenos resorts bem sossegados e mais isolados. Temos bons restaurantes, umas belas lojas, escolas de mergulho e agências de viagens para podermos planear o regresso para Portugal.
Nestas ilhas pouco mais há a explorar que não seja a praia e nem é preciso mais pois esta é excelente, a areia é fina e o mar translúcido. Mas a maior riqueza está inegavelmente no fundo deste mar. A variedade e diversidade de peixes e corais é incrível, e mesmo um pouco superior ao que encontrámos na Tailândia, com a vantagem de ser extremamente fácil depararmo-nos com uma tartaruga enquanto fazemos snorkling, ali mesmo a poucos metros da costa. Aconteceu-me e pude mesmo nadar ao lado duma e poder tocar-lhe.




Mais uma experiência que nunca hei-de esquecer. Dá para fazermos snorkling mesmo com uns simples óculos e saindo da nossa toalha na praia mas um dos dias fomos num pequeno barco com fundo de vidro e fizemos snorkling numa zona mais funda e onde pudemos observar outras espécies maiores, inclusive tartarugas.
Para regressarmos a Jacarta comprámos na agência CV Dikky Usana Lestari, em Trawangan, o bilhete de avião desde Lombok para a capital em Java. Voámos com a recente Garuda Airlines, num avião completamente recente e com muita qualidade e tudo pela incrível quantia de 30 euros por pessoa e uma comissão de 1,75 eur. Excelente, e uma bela opção! Lombok em si, também se tem revelado um destino muito procurado pois é uma ilha muito verdejante, pacifica, com 2 bons vulcões para explorar e boas praias também.
Faltou ainda visitar ilhas mais selvagens como Molucas ou Papua Nova Guiné ou ainda a ilha de Komodo e os seus famosos répteis (Dragão de Komodo) mas neste caso requeria mais 2 dias e outro tipo de planeamento de viagem. Usar Lombok como plataforma para visitar Komodo também é uma solução bastante viável.
Finalizada a nossa viagem e a nossa aventura resta voltar a referir que constatámos a imensidão, a diversidade, o choque de culturas, a riqueza deste país e a afabilidade e calor humano do seu povo para quem os visita. É uma excelente opção para uma viagem de sonho!

terça-feira, 16 de junho de 2009

Itália e Grécia (2001)

Em Agosto de 2001, imediatamente após a conclusão do meu curso universitário e cerca de mês e meio de trabalho árduo na empresa de um amigo, optei por celebrar tal facto com a minha 1ª viagem de mochila nas costas em busca dos merecidos momentos de evasão e de aventura. Como o dinheiro ganho em mês e meio não era assim tanto escolhi uma viagem por Itália e Grécia!
Juntamente com a minha namorada na altura embarcámos num avião até Milão.

Milão
Chegados à cidade e sem hotel marcado acabámos por ficar condicionados a um alojamento mais caro do que prevíamos e ficamos apenas uma noite. Deste modo não explorámos praticamente nada desta cidade economicamente e industrialmente mais rica de Itália embora não tão rica em termos históricos e cultura antiga como se revelaria o restante país.

Veneza
Partimos de comboio, por certo o melhor e mais rápido transporte a utilizar e rumámos a oriente para a apaixonante e romântica Veneza. Acabámos por ficar alojados num parque de campismo numa localidade a cerca de 20 kms da cidade da qual não me recordo do nome. Correndo o risco de cair na vulgaridade de mais um comentário sobre o romantismo de Veneza, não existem dúvidas que esta cidade é realmente singular e uma encantadora novidade aos olhos de quem a visita pela 1ª vez. Visitei-a em pleno Agosto e não me apercebi dos tão falados incómodos da poluição e dos cheiros muito comentados entre os conhecidos e amigos que aqui já estiveram. Creio que depende muito das marés na altura em que se visita. Talvez nesta data tenha tido a sorte de apanhar sempre as marés mais altas e menos propícias aos odores dos canais. A única contrariedade é a quantidade enorme de turistas que visitam esta cidade durante todo o ano. Aparte disso é muito interessante vermos que todo o tipo de actividade se faz através dos milhentos canais e rios que atravessam Veneza ao virar de cada esquina: os táxis, os autocarros, as ambulâncias, os correios, os médicos… tudo, tudo em barcos… não existe qualquer carro a circular pelas ruas! O meio de transporte mais utilizado é mesmo as nossas próprias pernas e os boatbus (barcos de transporte público) que são relativamente acessíveis contrastando com a exorbitância (cerca de 60 a 100 euros não me falhando a memória) que nos pedem por um passeio nas típicas e românticas gôndolas, um preço demasiado elevado para o simples mochileiro. Foi muito agradável perdermo-nos por entre o labirinto de ruelas, canais e pontes principalmente aqueles mais afastados dos pólos mais turísticos! De quando em vez deparávamo-nos com um pequeno e tranquilo largo ou praceta onde aproveitávamos para descansar. A quantidade de pequenas e grandes igrejas é enorme bem como edifícios muito, muito antigos (alguns deles até demais, que parecem cair a qualquer momento). Outra boa experiência é escolher uma pequena mesa de esplanada junto a um dos canais menos concorridos e desfrutar de uma refeição ou de uma bebida enquanto assimilamos a originalidade da própria cidade. Após pesquisar bem por entre os menus expostos encontrámos uma destas esplanadas com preços bastante normais comparados com o resto do país.

Florença
Mais uma vez de comboio, partimos para Florença, capital da bela Toscana. Ficámos alojados no parque de campismo Michelangelo a norte da cidade num monte com uma vista incrível e acessível da nossa própria tenda e que nos permitia fácil e rápido acesso a visitar a bela Florença. É uma cidade mágica que transpira de história, cultura e da mais rica arte renascentista de toda a Europa! Em cada esquina se evocam a vida e obras dos mais consagrados artistas de todo o mundo como Michelangelo, Leonardo da Vinci, Giotto, Masaccio, Donnatello e outros. Pontos de visita obrigatória são a Catedral Santa Maria del Fiori, o Palazzo Vecchio, a Ponte Vecchio, Palazzo Strozzi e… talvez todas as ruas, praças e pontes da cidade pois a história e riqueza arquitectónica abunda e envolve-nos mesmo que não a procuremos. Praticamente não vemos um edifício moderno em toda a cidade e a viagem no tempo para a era medieval ou renascentista só é quebrada pelas milhentas vespas e aceleras que circulam um pouco por todo o lado ou pelas vestes modernas dos muitos firenze ou turistas que se passeiam ou descansam nas movimentadas praças. É das cidades mais belas de todo o mundo!
Deixando a Toscana e os seus belos campos de vinhas e oliveiras partimos para Roma. Aqui permanecemos num hotel de qualidade inferior mas nem por isso muito barato para o bolso do português mochileiro. Aliás, a vida em toda a Itália não é nada barata pois a alimentação e o alojamento estão bem acima dos padrões portugueses. Por exemplo uma refeição mínima de uma simples sandes rondava os 5 euros ou um café ou outra bebida a 2 euros. A gastronomia italiana é muito boa para quem aprecie as pastas ou as pizzas mas menos rica em variedade e lembro apenas de um prato de lombinhos de novilho designado de “Saltimboca a la romana”, bastante apetitoso. E até as pizzas, por vezes não são aquilo que esperávamos em Itália pois conheço sítios em Portugal com pizzas bem melhores!

Roma
Em Roma impera o caos, pelo menos na imensa agitação de carros, motoretas e pessoas que se cruzam a toda a hora em grande parte da cidade, isto para não falar da maneira como os italianos conduzem, em muito semelhante ao típico tuga!!! Mas em Roma temos também o expoente máximo do vestígio de uma das épocas históricas mais marcantes de todo o mundo, bem como de uma das civilizações mais poderosas de todos os tempos: O Império Romano!
Na chamada “Cidade eterna” é absolutamente fantástico poder caminhar sobre calçadas e passeios percorridos, há mais de dois mil anos, pelos mais poderosos imperadores e guerreiros da época Romana! Dá ideia que cada pedra que pisamos ou tropeçamos tem uma história riquíssima para contar. O Coliseu de Roma é um marco dessa época e a sua beleza, ou melhor, simbolismo fazem-nos esquecer de todas as injustiças, carnificinas e atrocidades ali vividas. Bem perto do Coliseu temos um espantoso complexo arquitectónico romano onde se engloba o Fórum Romano, principal centro de comércio da Roma Imperial que por sua vez inclui o importante templo de Saturno e muitos outros. Saliente-se outros grandes pontos de interesse como o Castelo de Santo Ângelo, o Panteão, o Fórum de Trajano, a famosa escadaria da Praça de Espanha ou ainda a Fonti di Trevi!
É incontornável a visita à cidade-estado do Vaticano, o menor estado independente do mundo! Residencial do Papa e maior símbolo da Igreja Católica, engloba monumentos tão belos como a Basílica de São Pedro, a Praça de S. Pedro, a Capela Sistina ou o museu do Vaticano. A Basílica de S. Pedro é absolutamente fantástica e a subida a pé até ao topo do edifício será compensada por uma vista esplendorosa sobre toda o Vaticano. É muito importante ver qual o dia em que a Capela Sistina está encerrada pois foi exactamente o dia em que estávamos de visita ao Vaticano! Pois… já tenho uma desculpa para voltar a Roma! Relembro ainda uma especial precaução com os muitos carteiristas, principalmente nos transportes públicos da cidade!
De Roma, e mais uma vez de comboio, rumámos a Bari! Não para visitar a cidade, que decerto valeria a pena mas para embarcarmos num enorme ferry boat com destino a Atenas, na Grécia.
Era um autêntico barco de cruzeiro com quartos para todas as carteiras embora o nosso orçamento desse apenas para o 1º convés com lugares sentados. Dispunha ainda de casino, lojas, restaurantes com acesso a todos os passageiros. Com a ajuda de um saco de cama podemos encontrar um cantinho no chão e dormir um pouco.

Grécia
A viagem dura mais de 15 horas pelas belas águas de azul turquesa do Mar Adriático e seguido pelo Mar jónico. Um céu imenso e estrelado acompanhou-nos no passar das horas em que não dormíamos. Chegados a Patras, o porto de partida para Cefalônia , deparámo-nos com as maiores dificuldades da viagem, nomeadamente na tentativa de obter informações, nos transportes, alimentação, etc.
A Grécia não estava, nessa altura, muito preparada para receber o turista. À excepção da poderosa e eficiente rede de ferrys e transportes por mar, o restante encontrava-se bem mais atrasado que Portugal. Recordemos que em 2001 a Grécia era o pior e o ultimo país na maioria dos índices da União Europeia dos 12. A população na rua não parecia, também estar muito motivada e preparada para receber e agradar ao visitante estrangeiro. Cefalônia é uma ilha ainda no Mar Jónico e embora pouco conhecida e voltada para o turismo era realmente bela e com bons pontos de interesse histórico e algumas boas praias. Esta ilha foi palco da ocupação italiana na 2ª Guerra Mundial e palco do conhecido filme “Capitão Corelli” que retrata esse mesmo episódio em que os Italianos se recusaram a entregar as armas aos seus ex-aliados alemães sofrendo uma perda de cerca de 5000 homens. Da Cefalônia partimos de comboio para Atenas.
A visita a Atenas durou apenas um dia inteiro pois o nosso objectivo seria continuarmos para as ilhas. Também, não creio que existam assim tantos motivos de interesse para visitar em Atenas… e perdoem-me se estou a ser ignorante, mas não gostei muito da cidade á excepção do que restava da época de ouro desta antiga civilização como a Acrópole. No regresso ao porto de Pyreas passei dos piores momentos de todas as minhas viagens quando durante mais de uma hora pretendia saber apenas onde poderia apanhar um autocarro até ao porto e ninguém falava inglês e nem se mostravam interessados em ajudar! O que mais me marcou foi um policia que me “enxotou” violentamente e com desprezo como se fosse um cão. Já estava a desesperar por completo em pânico, não fosse uma rapariga a parar e ajudar-nos a ir até à bilheteira para traduzir. Foi complicado!
Dormitámos junto com mais de 20 estrangeiros ao relento no porto pois o barco apenas partia pela manhã. Nem uma estrutura de abrigo existia para a empresa que tínhamos escolhido. Já no barco todos os problemas e complicações recentes passaram automaticamente pois estávamos a caminho das ilhas de Syrus e Tynos, 2 das 56 ilhas das Ciclades. Escolhemos 2 das menos conhecidas fugindo às comerciais e agitadas Mykonos e Santorini. Existem mais de 100 ilhas gregas e dada a sua reduzida dimensão optámos pela tranquilidade e pelas mais pitorescas. Ainda assim é possível vermos turistas italianos por toda a parte sendo os principais “clientes” do turismo do país. E não me lembrando do nome dos locais, dos hotéis, restaurantes e dos principais pontos de interesse retenho apenas que o clima destas ilhas é muito seco e muito parecido com o nosso Alentejo profundo: casas baixas, toscas, caiadas de branco, ruas estreitas por onde passeiam os velhotes com os seus burros, muitas oliveiras, giestas, figueiras… tudo como o mais típico Alentejo sendo a grande diferença o facto de estarmos rodeados de agua por todos os lados e ainda as igrejas católicas substituídas por igrejas ortodoxas. Até os velhotes sentados nas praças e bancos de ruas com as suas vestes pretas e muito parecidas com o nosso Alentejo ou ainda a gastronomia baseada no tomate, o pimento, a azeitona, o azeite e a cebola eram como se nunca tivéssemos saído de Portugal. Alugando uma motoreta podíamos explorar o interior das ilhas e chegar a praias fantásticas quase paradisíacas com uma agua incrivelmente transparente tingida de um azul turquês que não estamos habituados. Não é tão fácil encontrar praias de areia branca pois algumas são de pedra ou areia mais escura mas a cor e temperatura da água suprimiam esse facto! Foi muito engraçado entrar em alguns estabelecimentos onde éramos transportados numa viagem no tempo pois não existiam caixas automáticas, o dinheiro era guardado numa caixa de madeira acessível a todos, as balanças eram autenticas peças de museu e no meio existia normalmente uma enorme pipa de azeite com um funil onde as pessoas é que se serviam avulso. Não esperávamos esta realidade e tantas parecenças com o Portugal mais profundo ou Portugal de outros tempos mas foi muito agradável mesmo. As pessoas eram também mais simpáticas que no continente.
No regresso da viagem voltámos de barco até Atenas, depois até Bari e depois de comboio de novo a Milão onde tínhamos o nosso voo. Lembro-me ainda que o dinheiro no regresso estava contado e, após já termos vendido a velha tenda e sacos de cama para pagar a nossa ultima noite em Syrus, havíamos comprado um bilhete para um comboio mais lento e estávamos no comboio errado. O revisor, intransigente, queria obrigar-nos a pagar o suplemento ameaçando com a policia e nós não dispúnhamos desse dinheiro sendo um italiano a nosso lado que amavelmente se prontificou a pagar (eternamente agradecido a esse desconhecido). A aventura continuou com a correria para chegarmos ao aeroporto a tempo do nosso voo que com alguma dificuldade lá conseguimos embarcar. Aqui reconheço que foi um erro termos o voo de regresso de novo em Milão pois obrigou-nos a fazer toda a viagem de regresso e perdemos muito tempo que pouparíamos, p. ex., se regressássemos por Atenas.
Mas outra coisa não espero destas viagens: Aventura!

Foi a minha 1ª viagem nestes moldes e que me deu para perceber que este é o tipo de turismo que eu mais gosto, que me permite um contacto mais próximo das gentes e modo de vida das pessoas bem como momentos, felizes ou de tensão, que jamais nos esqueceremos.
Gostei muito de Itália pela sua incrível riqueza histórica e artística, arriscando a dizer que talvez seja das mais ricas nações europeias neste sentido, e adorei as ilhas gregas pela pacatez e simplicidade das pessoas e pelo mar mediterrâneo que as envolve e lhes dá toda a cor.

Marrocos (2002)

Em Julho de 2002 parti no meu Ford Fiesta velhinho e muito, muito rodado com rumo a Marrocos. Estava prestes a acrescentar-lhe mais uns bons kms em cima dos mais de 400 mil que já tinha e ainda uma boa mão de aventuras e peripécias! Era também a minha 1ª viagem a um país cultural e socialmente diferente do mundo ocidental no geral. Seria o meu 1º choque cultural! Para isso contribui obviamente o facto de ser um país com uma religião bastante distinta do cristianismo como é o islamismo. Com poucos preparativos e munidos de passaporte saímos de Samora Correia bem cedo e em 7 horas já estávamos em Algeciras para apanhar o barco para Ceuta. A viagem de ferry é também ela rápida e muito confortável. Chegados à fronteira e aos serviços alfandegários de Marrocos foi imediata a constatação das diferenças de organização e funcionamento destes 2 mundos que embora tão perto são imensamente distintos! A fila para registar e carimbar a entrada era enorme bem como o assédio dos muitos transeuntes oportunistas que se faziam passar por assistentes dos serviços fronteiriços. Insistiam que conseguiam, a troco de 5-10 ou mesmo 15 euros passar-nos à frente da fila e tratar-nos da papelada poupando tempo. E completamente ingénuo caí na esparrela e passei o dinheiro para a mão dele na esperança da tão esperada poupança de tempo. Ele trouxe-me um papel assinado por não sei bem quem e deu-me a indicação de que deveria esperar mais um pouco. A única facilidade que obtivemos foi passar para uma fila com menos 2 carros mas o tempo de espera foi praticamente o mesmo e ao apresentar o dito papel, o guarda alfandegário ignorou-o dizendo que não valia nada. Ainda na fronteira fizemos um seguro próprio para o carro que creio ser obrigatório na altura pois a carta verde não tem validade em grande parte dos países africanos. Em Marrocos não existiam seguros, as disputas eram resolvidas na altura entre os envolvidos no acidente e quem fosse o culpado teria que pagar o estrago ficando apenas a honra e integridade como garantia! Muito estranho, mas era mesmo assim! E não foram necessários muitos kms para rezarmos e implorarmos que o dito seguro fosse mesmo verdadeiro e funcionasse mesmo tal não é a maneira louca de conduzir destes marroquinos: ultrapassagens nas curvas, ultrapassagens com carros de frente, desrespeito por stops e outras sinaléticas, etc…etc… Só respeitam mesmo as brigadas policiais e militares que vão frequentemente surgindo pela estrada.
O nosso 1º destino era Chefchauoen, uma pequena vila no interior norte do país. Pelo caminho passámos por Tetouan, onde fizemos uma breve paragem mas o ambiente degradado e as caras escuras e assustadoras dos locais levaram-nos rápido a prosseguir caminho! Ainda íamos demorar uns 2 dias a acostumar-nos a esta estranha realidade!















Chefchauoen é sem duvida uma vila encantadora com ruas estreitas por onde passeiam comerciantes com os seus burros , as casas caiadas de branco, outras de azul turquesa dão um toque muito castiço e envolvente a esse lugar. Na praça central da vila temos uns cafés muito acolhedores onde pelo chão, nos puffs ou em cadeiras de rede descansam alguns turistas gozando da tranquilidade quotidiana enquanto disfrutam de um revigorante chá e de uma cachimbada aromática. Pernoitámos 2 noites que bastaram para nos deixar envolver pela magia e serenidade deste local.




















Daqui prosseguimos para Rabat, a capital do Reino! As estradas são de boa qualidade e como tal as viagens são relativamente rápidas e cómodas. Como não tínhamos quaisquer hotéis marcados optámos sempre por partir pela manhã, entre as 9 e as 10h, para podermos fazer a viagem de dia e chegarmos de dia ao destino de modo a facilitar a procura de local para ficar. Marrocos é um país seguro mas viajar de dia é a melhor opção para evitar problemas de maior! A forte presença militar e as severas leis para os infractores são dissuasoras da prática do crime.






Em Rabat, com os seus 1,5 milhões de habitantes, sentimos na pele o caos e a confusão de uma grande capital… principalmente no trânsito! Encontrar um hotel também não é fácil pois os baratos são demasiado baratos e as condições são, na maioria desanimadoras, e os hotéis mais caros são realmente caros, ainda que muito charmosos e opulentos. Nesta cidade ficámos apenas uma noite e deu para visitarmos alguns dos monumentos estatais e do reino mais interessantes, ver de fora a opulência do palácio e residência do Rei Hassan II e passear na Medina (parte velha e zona comercial de qualquer cidade marroquina).
De partida para Casablanca vivemos mais uma aventura um pouco mais assustadora pois a policia militar, sempre fortemente armada, confundiu-nos com um outro carro estrangeiro e quando passávamos perto de uma zona residencial de membros do governo e do Reino fomos bruscamente mandados parar com metralhadoras apontadas enquanto um dos militares falava com alguém por rádio. Passados uns minutos lá nos mandaram avançar e seguir caminho com a mesma brutidade que nos tinham mandado parar.
Em Casablanca destaco a grandiosa e riquíssima mesquita Hassan II. É das poucas mesquitas que os ocidentais podem visitar e vale todos os minutos e esforços pois recordar-me-ei sempre dos belos mármores importados e incrivelmente bem trabalhados e esculpidos, dos fantásticos e enormes candeeiros de cristal de Murano (Veneza) e por fim o tecto que abria automaticamente, como que por magia, e deslizava em todo o seu comprimento de modo a que os fieis possam rezar directamente para o céu.















Já para sair de Casablanca foi de novo o caos pois, com mais de 3 milhões de habitantes, os carros são mais que muitos e as regras e sinais nos cruzamentos são inexistentes. A certa altura dou comigo com o carro parado no meio de um cruzamento sem conseguir avançar um metro que fosse durante mais de 5 minutos, com carros a passar por todos o lados enquanto buzinavam ferozmente e eu, em desespero e depois de fechar os olhos sem saber o que fazer, lá arranjei um pouco de coragem e, ao som de buzinadelas desenfreadas, avancei destemido à bruta também! Foi o único modo de sair dali!
O destino era Marrakech, mais a sul e uma das portas para o deserto do Sahara!
E Marrakech reservava-nos uma agradável surpresa: era uma autêntica cidade de mil e uma noites com toda a confusão e caos de uma grande cidade! Aqui a oferta hoteleira é mais vasta e embora um pouco mais cara permite um hotel de 3 estrelas com piscina por um preço convidativo. Ficámos numas das muitas avenidas largas ladeadas de hotéis que davam acesso ao centro e à parte mais antiga. A cidade tem muitos pontos de interesse mas o lugar mais incrível, para mim até mesmo de toda a viagem, é a Praça Jeema El Fna. Uma grande praça rodeada de bancadas e pequenas lojas e bem no centro confluem centenas de pessoas vindas de todas as partes de África predominando os Berberes e os subsaharianos que, após percorrerem milhares de kms, aqui vêm para mostrar e vender os seus artefactos e mercadorias e proporcionando espectáculos de faquires, encantamento de serpentes, comedores de fogo e muitas outras artes. É uma autêntica Babel, um pólo de cultura como haverá poucos em todo o continente africano!










































Inesquecível! Encontramos aqui coisas tão singulares como dentaduras e partes delas à venda arrancadas aos mortos, peças de rádios, televisões ou outros electrodomésticos, sapatos e ténis usados sem o respectivo par, frutas, alimentos, animais, e muito mais… É de noite que a praça ganha uma vida ainda mais mágica sendo lotada pelos turistas e locais.
A Medina e zona comercial mais antiga é bastante interessante e o turista deverá deixar-se perder pelas ruelas repletas de bancas, pelos cheiros das comidas de rua, visitar as farmácias tradicionais ou as grandes lojas de tapetes comprando nem que seja uma pequena lembrança contribuindo assim para este frenesim comercial. O almoço de um dos dias em Marrakech acabou por ser numa dessas ruas estreitas, numa mesa e cadeiras improvisadas com caixas vazias de refrigerantes, no chão, com umas brochetes na brasa e 2 sumos de laranja naturais. Aliás, o sumo de laranja tal como os caracóis vendem-se por todo o Marrocos e são absolutamente deliciosos, onde quer que fosse! Recomendo também as tagines, que são panelas de barro afuniladas onde se cozinham carne de frango ou borrego, ou o cous-cous, uma espécie de cozido a portuguesa com legumes e carne cozidos acompanhados por uma massa granulada fininha.










No regresso para Portugal desde Marrakech as aventuras continuavam e depois de um calor infernal num carro sem ar condicionado, um pó do deserto tão fino que passado um ano ainda persistia nos recantos mais recônditos do carro, tivemos ainda um furo. Para arrematar decidi ainda ser um verdadeiro marroquino e fazer uma ultrapassagem em pleno risco contínuo e, por azar, estavam 2 policias mais à frente, de óculos escuros e metralhadora na mão. Um deles mandou-me encostar e começou a sorrir sarcasticamente enquanto perguntava se eu sabia o que tinha feito! Começou com a conversa habitual de assustar o turista e depois… abriu o pequeno livro que tinha e disse para colocar a carta bem como algum dinheiro! Como não tinha mais nada lá foram 20 eurinhos que deviam equivaler a 3 ou 4 dias de trabalho para ele!
Pelo caminho ficámos uma noite em El Jadida, uma zona balnear, antiga colónia portuguesa de nome Mazagão e que conta ainda com as bem conservadas muralhas e a cisterna da fortaleza. É uma zona de muita oferta turística e a praia é de relativa qualidade. Antes de regressarmos a Portugal restavam-nos uns 3 dias para descansarmos na praia e experimentámos a zona costeira voltada para o Mediterrâneo entre Tetouan e Al Houceima mas as praias não eram tão bonitas como esperávamos e a oferta hoteleira era quase exclusiva a resorts mais dispendiosos e sem grandes estruturas (comercio e outros) à sua volta. Optámos antes pelo sul de Espanha onde descansámos desta verdadeira aventura!
Foi um 1º contacto com um povo muçulmano, em muito diferente da nossa realidade ocidental mas sempre muito disposto a ajudar e com curiosidade de saber mais sobre nós! Revelou-se uma viagem muito enriquecedora de todos os pontos de vista e Marrocos talvez seja um dos países muçulmanos mais preparados e “abertos” para receber o turista proporcionando uma excelente oportunidade para que os portugueses, de uma forma “pacífica” e fácil, possam viver uma experiência única muito interessante.

Nova York (Junho 2002)

Não sou de forma nenhuma um adepto e amante da América e muito menos dos Americanos (pelo menos daqueles que proferem aquelas barbaridades que vamos assistindo todos os dias) mas… tinha que ser! Tinha mesmo que ir à cidade que está no centro do mundo, onde tudo acontece! É muito importante salientar que Nova York não é verdadeiramente a América pois quem lá habita e trabalha são cidadãos de todo o mundo, o ambiente é multicultural e as pessoas são normalmente muito simpáticas e prestáveis, principalmente as autoridades. Nova York é exactamente como vemos nos filmes: as limusinas, os polícias gordos a comerem o seu donut, as sirenes dos carros de bombeiros a passarem, os executivos de pasta na mão que se cruzam com os dominicanos, mexicanos, cubanos de calças largas, cordões ao pescoço e bandeiras na cabeça! Uma grande mistura muito interessante!
Foi em Junho de 2002 que viajei com o meu amigo João Miguel, também ele muito curioso com o que “Big Apple” seria na realidade. Fomos apenas por 4 noites (5-6 noites são suficientes para se “sentir” a cidade) e ficámos alojados num hotel bem perto do centro e perto da Grand Central. Os quartos eram minúsculos, com beliches e com casa de banho partilhada mas era muito limpo e prático. O alojamento em Nova York é sem dúvida dispendioso e difícil de arranjar/reservar. De manhã acordávamos bem cedo pois ainda deitados, sentíamos lá fora o pulsar e fervilhar da agitação desta magnifica cidade. Não dá para ficar ali deitado sabendo que o mundo gira mesmo ali ao lado. Como é uma cidade plana recomendo andar à superfície o mais possível pois poderemos absorver mais rapidamente o modo de vida desta cidade. De semana, pela manhã, toda a gente corre para algum lado enquanto levam na mão um café Starbucks ou um jornal do dia. Como pontos de interesse a visitar fomos aos “obrigatórios”: Empire State building, Quinta Avenida, Central Park, Brooklin Bridge, Time Square, Pier 17, Guggenheim Museum, Metropolitan… e outros. Mas a parte mais interessante é mesmo andar nas ruas, andar no metro, apanhar um cab, jantar num bom restaurante típico de uma qualquer parte do mundo, ir a um jogo da NBA, ir a um musical, etc. Destaco ainda o bairro de Chelsea com as suas vivendas características que vemos em tantos filmes e ainda o Museu de História Natural, o porta aviões USS Intrepid, o submarino USS Growler e fazer uma viagem de barco em torno de toda a Manhattan (apanha-se perto do Intrepid) e onde dá para ter uma vista magnifica sobre a cidade, as pontes e a Estátua da Liberdade. Subimos ao Empire State Building de dia e depois de noite e ambas valem a pena pois a vista é excelente. Lembro-me de, à noite, irmos caminhando na rua meio perdidos e de repente apercebermo-nos de um grande clarão de luz e sons crescentes de movimento e agitação. Foi quando, ao dobrarmos uma esquina, deparámo-nos com a surpreendente e iluminada Time Square. Ambiente fantástico com muita gente, limusines e neons…
Outro episódio curioso foi num dos dias em que saímos cedo estavam obras grandes na estrada em frente do hotel, com cilindros, escavadoras, martelos pneumáticos, maquinas de alcatrão e quando regressámos ao final do dia, toda a avenida estava arranjada, novo piso, impecável… num único dia! O mundo ali gira a 300 à hora!
Em termos de despesas e excluindo o alojamento, o restante não é nada caro e em muitos casos ao nível dos custos em Portugal, e com a valorização do euro torna-se um verdadeiro paraíso das compras (roupa, calçado, perfumes, electrónica e fotografia). As refeições durante o dia eram feitas nos muitos “Delis” de esquina que tinham, ao peso, comida chinesa, tailandesa, indiana, paquistanesa, muçulmana, mexicana, cubana… tudo misturado e representando essencialmente a panóplia da variedade dos próprios empregados destas lojas de conveniência. Almoçávamos por 6-8 dólares (prato e bebida). Ao jantar escolhíamos um bom restaurante diferente todos os dias (mexicano, japonês, alemão, chinês, italiano, etc) por pouco mais de 25-30 dólares por refeição. Um episódio engraçado foi quando, já tarde e um pouco desesperados, entrámos num restaurante Japonês muito simples mas muito característico no Lower East Side e que ficava numa espécie de cave. Estava a abarrotar de asiáticos a comerem ao balcão e espalhados pelas mesas, muito barulho, fumo da comida no ar, proporcionando uma experiência muito interessante e culminada com um atribulado regresso num táxi conduzido por um indiano de turbante, decorado com pendentes brilhantes, cortinas com lantejoulas, cheiro a incenso e uma musica frenética em alto volume. Só visto!
E assim se passou muito rapidamente esta viagem ficando na memória aquela que é, para mim, a mais louca e interessante cidade do mundo onde se tem mesmo a noção que tudo se passa, tudo acontece e a uma velocidade alucinante!
Não costumo desejar cegamente regressar a um local onde já estive, mas neste caso vou abrir uma excepção pois desejo mesmo voltar à incrível NY!

Natal, Brasil (2000)

Aproveitando uma promoção de um sharter irrecusável (490 eur) acabei por reservar uma dessas viagens com tudo “marcadinho” (voo, transferes, resort, meia-pensão, etc). Sim, fui mesmo! Foi a primeira e única vez que o fiz, até agora! E soube-me muito bem! Ainda que não faça nada o meu género nem o meu gosto pessoal, não posso negar que é muito agradável e confortável ter tudo controlado e poder verdadeiramente descansar. O destino escolhido foi a cidade de Natal e Pipa, no estado nordestino do Rio Grande do Norte. À chegada um taxista lembrava que Natal era “uma pequena cidade de 800 mil habitantes”!?!? Deu para ter uma noção da dimensão deste grandioso país. Junho é supostamente a altura de Inverno por estas bandas e realmente chovia diariamente mas a temperatura era elevada e rapidamente a chuva parava e o sol tudo secava, possibilitando mais um mergulho no mar. As praias, essas, são muito parecidas com as boas praias portuguesas apenas com mais coqueiros. Há algumas verdadeiramente belas e com areal de perder de vista mas verdadeira “riqueza” desta zona do Brasil é a descontracção e tranquilidade com que se vive a vida. A população, maioritariamente pobre, é muito calorosa e muito curiosa da forma como se vive na Europa e em Portugal, como se fossemos todos ricos ou então com alguma intenção de emigrar para cá na procura de uma vida melhor.
Ficámos no Hotel Vila do Mar que era muito simples, não tão recente como outros daquela zona mas limpo e suficiente para aquelas 7 noites de alojamento. A grande vantagem deste hotel é que ficava mesmo “colado” e mesmo de frente (5-10 metros apenas) de uma bela e grande praia, quase deserta. Tinha somente 2 pisos e por sorte eu e o meu amigo Pedro ficámos no rés do chão. Como tinha uma grande janela corrida era só levantar da cama ou da espreguiçadeira do pátio, saltar um muro de 1 metro de altura e ficávamos imediatamente com os pés na areia, prontos para mais um belo mergulho. Fantástico!!!! Isto vale mais que as 5 estrelas na placa do hotel… para mim! As caipirinhas também eram boas… mas também são sempre boas quando estamos naquele clima e naquele ambiente.
Acabámos por fazer quase todas as excursões da praxe onde destaco apenas o buggy nas dunas e o mergulho nos corais. Esta zona do Nordeste até é relativamente segura e podemos aventurar-nos por nossa conta. Alugámos um buggy, nós mesmo conduzimos e fomos até Pipa e até andámos “a abrir” pelas imensas praias desertas… parecia um filme! Atenção que as dunas são “proibidas” para nós ocidentais pois são altamente perigosas para quem não as conhece bem. No regresso demos boleia a uns miúdos e fomos levá-los a casa, facto que a mãe agradeceu fervorosamente convidando-nos a jantar mas tivemos que recusar pois viajar de noite num local destes (grandes extensões de mato e selva) poderia ser uma aventura demasiado arriscada.
Levámos connosco umas 3 garrafas de vinho tinto e Porto, que no Brasil vale ouro e pode servir de moeda de troca ou para dar uma boa gorja a um prestável taxista ou guia. Sem mais nada de especial a assinalar ficou-me na memória o modo de vida simples das pessoas da região e a evidência de que o Brasil é um país ENORME, rico em beleza natural e com um grande potencial. Creio que posso afirmar que a grande maioria dos portugueses que viaja para o Brasil acaba por sentir uma forte ligação e empatia com estas terras e este povo, de alguém que fala a nossa língua. No entanto, da parte dos brasileiros não percepcionamos esse sentimento nem esses laços tão fortes e alguns desconhecem mesmo onde é Portugal. E, infelizmente a realidade é que somos nós portugueses, nação milenar e historicamente heróica, que diariamente somos influenciados pelo Brasil, pela sua cultura e poder económico.

India (2006)

Durante mais de 6 meses estivemos a ganhar coragem e forças para nos aventurarmos num país que sabíamos, à partida, que iria ser complicado para uma viajem de mochila às costas como seria a Índia. No entanto uma força inconsciente chamava-nos para explorar um país que tem tanto de vasto como de singular e misterioso para descobrir. Sabíamos que as condições que este vasto país tem para oferecer a este tipo de turismo são precárias e muito duras. E, não nos enganámos!!! Apesar de meses de consciencialização para essas dificuldades, o choque à chegada a Nova Deli foi tremendo… assustador mesmo! Chegámos ao aeroporto internacional da capital perto das 3h da manhã do dia 3 de Agosto de 2006. Aguardámos dentro do mesmo para que nascesse o dia. Até aqui tudo bem pois o aeroporto embora simples era relativamente normal e limpo. Com os 1ºs raios de sol começou a fervilhar em nós a curiosidade de iniciar a aventura a valer e ir conhecer a cidade. Mal se abriram as portas do aeroporto e constatámos logo o 1º choque: o cheiro era nauseabundo (tipo pocilga mesmo) e que, aliado à humidade quente que se fazia sentir, originou como que uma ameaça de tontura e desmaio! Jamais irei esquecer aquele odor… não porque tenha sido o pior que cheirei nesta viagem (longe disso), mas sim por causa do 1º impacto com este país! Bom, daqui para frente foi o frenesim, a agitação, o caos, os receios, o stress ... mas também a compensação de tudo o que este grandioso e rico país tem para dar!



O assédio para o transporte, alojamento, refeições, compras e visitas guiadas é enorme o que, aliado às faces de pele escura, para nós muito estranhas e às vestimentas muitas vezes sujas e rasgadas, nos leva a um receio e desconfiança muito grande mas que, com o passar do tempo se revela desnecessária e sem sentido! Ao chegarmos ao centro de Nova Deli apercebemo-nos do “caos organizado” que se vive nas grandes cidades indianas.





Escasseiam os sinais e regras de trânsito, e tudo funciona através da buzinadela . Absolutamente incrível e desesperante até nos ambientarmos! A pé pelas ruas, as sensações e visões imediatas não são as melhores: o lixo nas ruas, os cheiros que se vão misturando, os cães vadios, as vacas magras com ar doentio, as crianças semi-nuas a revolverem os montes de porcaria acumulada, os pedintes sujos, deficientes ou doentes vagueiam por entre os carros e motos completamente moribundos! Foi aqui que nos apercebemos que, por muito que nos tivéssemos preparados, jamais seria o suficiente! Não fosse a esperança que as coisas fora dos grandes centros seriam realmente melhores e mais agradáveis, teríamos regressado a Portugal pois o que vimos nos 1ºs 2 dias na capital não compensava este choque que estávamos a viver! No entanto, a condição humana tem tanto de misterioso como de fantástico pois no final do 2º dia já conseguíamos ver e encontrar os pormenores mais incríveis, singulares e até maravilhosos que tínhamos ambicionado, nem que fosse apenas por um minuto enquanto não tínhamos que nos desviar de uma ratazana com 20cms a alimentar-se e a partilhar com uma criança, um monte de lixo mesmo ali ao lado!



Mas não se pense que a Índia é um país assim tão pobre! Aliás é muito mais rico e próspero que Portugal e dispõe dos melhores médicos, cientistas e da melhor tecnologia do mundo! Era frequente vermos pessoas nos cafés com portáteis ou com telemóveis topo de gama ou lap tops! O problema da Índia reside no facto de serem pessoas a mais para os recursos existentes, deriva também uma questão cultural que ainda obriga a uma divisão social em castas e hierarquias e ainda à aceitação da condição de pobre e mendigo como uma situação normal histórica e cultural!
Por mais estranho que pareça, a mendicidade e a pobreza fazem parte da cultura e da religião da Índia! Alguns dos seus deuses hindus passaram por esta fase no seu caminho para o divino, bem como os budistas o fizeram e fazem para na sua tentativa de alcançar o Nirvana e a Iluminação.
O que mais fascina na Índia é a sua diversidade cultural e religiosa que se misturam numa harmonia aparente por entre os milhões de pessoas que se cruzam na rua. É sem margem para dúvidas o país mais rico e diversificado culturalmente, sendo aqui que surgiram algumas das importantes religiões que subsistem até aos dias de hoje, como o Hinduísmo, o Budismo, o Jainismo e o Siquismo e muitas outras desconhecidas para nós, leigos ocidentais . O Hinduísmo é a religião predominante, seguido do Budismo e do Islamismo. Os católicos escasseiam mas vão surgindo e metendo conversa com os ocidentais na tentativa de satisfazer a sua curiosidade. E curiosidade é uma das maiores características do povo indiano pois por entre a multidão os caminhos abriam-se para nós e os nativos paravam mesmo para nos verem e observarem, para tocar na nossa pele, para nos tirarem fotos, para colocarem a cabeça por cima do nosso ombro na tentativa de lerem o nosso guia ou apenas para sorrirem para nós sobressaindo o branco imaculado dos seus dentes bem como toda a simplicidade e simpatia de um povo. Inesquecível!!!
Na capital, Deli, destaco apenas a porta da Índia e a zona do Parlamento (a única zona limpa), o palácio real (Forte Vermelho), a mesquita de Jami Masjid, as lojas, bazares e mercados recheados de artesanato, recordações e velharias.
De seguida apanhámos o comboio para norte, para Pathankot, a caminho de Daharamshala, o refugio de Dalai Lama no sopé dos Himalaias. A estação de comboios de Deli é também ela caótica, com muitos cheiros à mistura e algumas ratazanas e baratas nas linhas, principalmente à noite.

É fácil perceber o porquê deste elevado numero de bicharada pelas ruas pois os Indianos como bons religiosos hindus e budistas não matam qualquer animal, o lixo nas ruas serve de fonte rica em alimento e eles próprios não têm uma cultura ambiental e de higiene pública muito enraizada. Aliás... essa consciência ambiental é praticamente nula.
À medida que nos afastamos dos grandes centros as condições vão melhorando, as ruas são mais limpas e menos caóticas. No norte respira-se o ar puro do maciço montanhoso dos Himalaias e a tranquilidade do pacifismo dos budistas existentes em toda a zona. É realmente relaxante e compensador todo o ambiente vivido na cidade que abriga o Pontífice Dalai Lama, Daharamshala.



De Daharamshala partimos para Manali mais no coração dos Himalaias e excelente para explorarmos este majestoso gigante, apelidado como o tecto do mundo! Fomos de autocarro que ao contrário dos comboios se revela sempre muito pouco confortável, muito moroso mas também originador das cenas e aventuras mais caricatas e inimagináveis! Nesta viagem, por exemplo, o autocarro sem ar condicionado nem suspensões dava saltos ao passar nas esburacadas estradas e isto enquanto o motorista ia cuspindo de 2 em 2 minutos, uma substancia preta que provinha do tabaco de mascar! Nós, para ajudar à festa, íamos muito encolhidos num pequeno banco improvisado mesmo atrás do condutor.





Pelo caminho as paisagens eram majestosas e o verde ia substituindo o negro da poluição e o colorido dos carros! Respira-se um ar muito fresco e a tranquilidade impera! Já em Manali e muito bem instalados, agendámos um passeio de jeep 4x4 de 2 dias por entre os trilhos do coração dos Himalaias. Depressa atingimos os 5 mil metros e à medida que penetrávamos para o interior do maciço, o verde era substituído pela aridez mágica da montanha e o silêncio era apenas quebrado pelo agitar desenfreado e assustador das aguas originadas pelo degelo da época. Os caminhos eram muito estreitos e por vezes cruzávamo-nos com camiões carregadíssimos que roçavam as bermas dos precipicios mais altos que se possam imaginar.



A cabeça pesava e o mínimo esforço cansava bastante. O destino eram várias aldeias budistas que anteriormente pertenciam ao Tibete e o ponto alto seriam os míticos templos budistas que se alojam nas escarpas ou cumes das altas montanhas. Nada podia estar mais harmonioso com a própria montanha que esta religião e este povo que a venera e por ela reza demonstrando um enorme respeito pelas forças da natureza. Os rostos dos povos que vamos encontrando têm traços muito diferentes da restante Índia sendo de predominância mongol, reservados mas muito simpáticos.



Os nómadas e pastores surgem caminhando ou nos seus burros, nas estradas mais remotas e estreitas como quem vai ao café da esquina ou supermercado mais próximo! Vêm-se também alguns ocidentais a caminhar ou de bicicleta explorando a montanha na tentativa de absorver toda esta magia que ela transmite ganhando forças em todos os pequenos templos budistas decorados com bandeiras multicolores que, ao vento, nos vão lembrando de quem dita as regras ali é a própria natureza! É aqui que constatamos que somos um pequeno grão de areia em toda esta imensidão.



De Manali prosseguimos para Shimla mas alugámos imediatamente um carro com 2 condutores para nos levarem até Agra, perto de Deli e depois para o Rajastão, numa tentativa de poupar tempo… e resultou! Em Agra visitámos o imperdível Taj Mahal.



Valeu bem a pena pois a riqueza deste monumento é enorme! Foi mandado construir pelo imperador mongol Xa Jahan em honra da sua amada esposa Mumtaz Mahal, em 1643. É de influência islâmica e está ricamente decorado com muito ouro e pedras semi-preciosas. Não é muito grande mas é muito rico!
Ficámos apenas mais uma tarde em Agra onde tivemos que descansar numa mesquita de borda de estrada que recebe e aloja peregrinos mas cujas condições estão muito aquém do que estamos habituados… mas pronto… já estávamos a ficar habituados!
De novo na estrada fizemos muitos kms até ao Rajastão. Mais uma oportunidade de presenciar as mais caricatas situações no transito desde uma auto-estrada com 3 faixas onde normalmente circulavam 5 faixas, desde irmos nessa auto-estrada e de repente apercebermo-nos de umas luzes de frente que pertenciam a alguém que achava que deveria ir no sentido contrário ou ainda os muitos camiões avariados na faixa do meio, sem sinalização e que obrigava a manobras loucas para nos desviarmos. O que é certo é que raramente víamos um acidente e acima de tudo apita-se mas ninguém fica chateado com ninguém, nem insulta ninguém! Temos muito a aprender, nós os portugueses!

O destino desta viagem foi Jaipur, “A cidade Rosa”, derivada da pedra barrenta que são feitos os edifícios mais antigos. Esta zona da Índia é das mais secas mas das mais ricas culturalmente e historicamente, onde se cruzam homens de turbantes, encantadores de serpentes, vendedores de ouro e pratas e jovens de jeans. Parece tirada de um filme das mil e uma noites!





Tivémos alguma dificuldade em arranjar alojamento pois apenas existia o muito caro com hotéis majestosos com porteiros rigorosamente vestidos ou o muito barato de aspecto mais duvidoso. Após 4 ou 5 tentativas lá encontrámos um meio termo aceitável. Aproveitámos também para comer uma pizza… sim uma pizza e carne pois há muitos dias que estávamos obrigados a uma dieta vegetariana tal a dificuldade em encontrar pratos de carne. Os hindus não comem vaca, os budistas são vegetarianos e os muçulmanos não come porco logo… muita fominha para o tuga normal!



Em Jaipur visitámos o Hawa Mahal com a sua invulgar fachada, o palácio Chandra Mahal e o Forte de Amber, onde subimos de elefante até ao interior do mesmo. O elefante, antes utilizado em todos os trabalhos pesados e mesmo nas batalhas é agora usado no turismo, também explorado, mas de uma forma menos violenta! Este palácio-fortaleza data do sec. XVI e demonstra toda a riqueza de um povo em cada uma das minuciosas decorações de pedras semi-preciosas ou arcos e janelas rendilhadas.

Após 2 noites de estadia prosseguimos para oeste direitos a Udaipur, a cidade dos lagos, menos seca mas com a cultura do Rajastão bem presente até nas pinturas nas paredes da casa mais simples no centro da cidade. Destacam-se o palácio Jag Niwas sobre o lago Pichola e o Palácio Real da Cidade com um excelente conjunto de artefactos mongóis e islâmicos. Esta cidade vive um ambiente muito descontraído e até romântico e nas ruas, à noite, víamos muitos estrangeiros em plena conversa com os locais que se mostravam muito curiosos do modo de vida ocidental. Nós próprios ficámos mais de uma hora a conversar com o dono de um restaurante sobre os valores do casamento e as diferenças entre as 2 culturas. Muito enriquecedor tanto para nós como para ele próprio!



De Udaipur partimos de autocarro até Bombaim para apanharmos o comboio até Goa, mais a sul! Bom esta viagem revelou-se numa das maiores e mais duras de todas as que fiz até hoje. Na paragem de autocarro e enquanto aguardávamos mais de 2 horas, serviam-nos um aconchegante chá, e estávamos rodeados de cartazes com autocarros de luxo, aerodinâmicos, de bom aspecto… apontávamos para as fotografias e as pessoas sem perceberem o inglês acenavam que sim com a cabeça, enquanto sorriam! Chegados à hora fomos “puxados” numa correria louca com as mochilas a reboque para um parque de autocarros velhos e a cair, esperançados de encontrar o nosso autocarro com estofos em pele. Por fim parámos junto de um autocarro surreal, velhíssimo, sujo e com malas e pessoas no tejadilho. Discutimos com o tipo e com o camionista mas eles iam arrancar sem nós e tivémos mesmo que embarcar pois, caso contrário, ainda hoje estaríamos à espera do luxuoso bus. A viagem durou quase 16 horas com apenas 3 paragens e onde nós éramos os únicos “brancos” em todo o autocarro. O autocarro também era muito particular pois em baixo eram cadeiras normais de autocarro e por cima estavam uns compartimentos que eles chamavam camas de estofos completamente encardidos. Todos olhavam para nós! Havia pessoas deitadas pelo chão e o cheiro também era característico. Deu para nos rirmos durante uma boa meia hora… até começar o desconforto da estrada e das suspensões, e ainda, eu ter adoecido com uma gastroenterite aguda e repentina. Fiquei com febres altas e vomitei uma série de vezes (pela janela pois eles não param). Quando parámos numa das vezes passei por entre os corpos adormecidos pelo chão do autocarro e quando saí acabei por desmaiar de fraqueza! Os indianos aperceberam-se e agarram-me a tempo… jamais esquecerei quando abri os olhos, poucos minutos depois, e vi cerca de 20 indianos com aquelas caras cómicas de olhos curiosos esbugalhados a fixarem-me enquanto eu tentava perceber o que me tinha acontecido! Linda imagem, muito caricata! A Ana sem falar inglês desesperava na tentativa de saber o que se passava e de comunicar com os nativos. Retomei forças e tive que aguentar viagem até Bombaim. Ficámos à entrada da cidade na borda de uma estrada sem qualquer paragem, posto de informação, lojas, policia… nada! E já era noite cerrada! Lá conseguimos quem nos levasse para a estação de comboio que pretendíamos e ficámos umas boas 6 horas à espera de comboio para Goa. Ficámos numa sala “VIP” reservada para bilhetes de 1ª e 2ª classe que já não era usada à meses, com ar condicionado, wc privativos limpos e tínhamos a visita constante dos funcionários que muito contentes por terem tão ilustres convidados, perguntavam num inglês macarrónico “OK?” e sentavam-se ao nosso lado enquanto olhavam para nós, riam e perguntavam repetidamente “OK?”. Muito engraçado não fossem as muitas e gigantescas osgas que nos miravam e aproximavam-se sem medo! Pareciam dragões de kommodo indonésios! Eu lá ia dormindo recuperando da viagem enquanto a Ana vivia um pesadelo, mas acordada!
Já no comboio para Goa, voltámos a ter algum conforto em vagão com cama e ar condicionado e onde íamos dormindo nas 12 horas de viagem interrompidas apenas pelos pregões dos vendedores, que carregados de comida e bebidas, percorrem os corredores das carruagens.
Chegados a Goa parecia que estávamos noutra India: mais tranquila, limpa, com palmeiras, ar fresco do mar,…



Procurámos um hotel perto do mar e não foi difícil encontrar pois estávamos em época baixa e os preços também eram mais baixos! O mar nesta altura está muito revolto e apresnta uma cor barrenta impossibilitando um mergulho! As praias e paisagens são muito giras, muito ambiente tropical de coqueiros e palmeiras, areias brancas embora não se possa considerar um verdadeiro e típico paraíso, é realmente muito agradável e bonito. Procurávamos com a nossa ida a Goa, de uma forma semi-inconsciente, aquilo que qualquer português procura numa viagem a uma ex-colónia: um reencontro com uma réstia de cultura portuguesa. Algo que nos faça esquecer a nossa actual pequenez e insignificância no panorama actual e relembre os grandes feitos de outros tempos de que, quer queiramos ou não, acabaremos por orgulhosamente dizer “isto é português” ou “isto foram os portugueses que trouxeram ou construíram”! Mas na realidade Goa acaba por ter muitos edifícios e monumentos portugueses mas os habitantes passam ao lado de tudo isso e muitos não sabem sequer quem foram os portugueses ou onde fica Portugal! É preciso procurar muito bem alguém que ainda fale e se lembre do português apesar de algumas palavras serem portuguesas ou do nome de todas as ruas ser em português. Ainda assim vale muito a pena passear pelas ruas de Panaji (capital da região de Goa) com arquitectura tipicamente portuguesa bem como as muitas igrejas existentes.



Alugámos uma moto e tranquilamente passeámos por entre arrozais e palmeiras com igrejas espalhadas um pouco por todo o lado, bem como as casas senhoriais antigas portuguesas e holandesas cuidadosamente restauradas e que proporcionam uma viagem no tempo muito real e interessante. Destaco ainda a mundialmente conhecida Basílica do Bom Jesus que alberga o túmulo de S. Francisco Xavier e a Sé Catedral. Goa foi anexada pela União Indiana em 1961 após 400 anos de domínio português.





Após cerca de 4 dias em Goa fizemos a viagem de regresso, de comboio até Bombaim e daqui voámos directos para Frankfurt e depois Lisboa poupando uma longa viagem até Deli! Quando chegámos a Portugal, exaustos e 5 quilos mais magros não queríamos sequer pensar na hipótese de regressar mas passados 2-3 meses e constatando o impacto que esta viagem teve nas nossas vidas, e no modo de ver o mundo, damos connosco com uma enorme vontade de visitar o tanto que ficou por conhecer, ansiando mais uma oportunidade de interagir com o povo indiano ou apenas de ver um daqueles sorrisos inocentes de quem pouco tem mas que pode dar muito! Será uma viagem que ficará para sempre marcada nas nossas memórias pelas aventuras e desventuras vividas e pela singularidade de um país tão vasto, tão rico na sua cultura, na sua história e nas suas gentes!