segunda-feira, 15 de junho de 2009

Tailândia e Cambodja (Agosto 08)

Agosto de 2008 e tinha inicio mais uma viagem por terras asiáticas. Na bagagem levávamos a habitual ânsia de conhecer uma nova cultura e um novo país. Não prevíamos muitas dificuldades nem complicações de habituação para esta viagem. Sabíamos que a Tailândia é um dos países asiáticos em maior expansão e mais modernizados. Está perfeitamente preparada e voltada para o turismo e é um país excelente para quem se quer iniciar nestas aventuras asiáticas. Começa pela própria mentalidade assente na sua religião, de maioria budista, que confere aos tailandeses um dos povos mais cordiais, tranquilos e pacíficos que conheci. Sem serem muito calorosos são muito respeitadores, serenos e educados e viajar pelo país torna-se uma experiência muito tranquila e muito segura.






























Começámos por Bangkok, a capital. Tínhamos as primeiras 3 noites de alojamento marcadas pela net, para nos poupar alguma correria e tempo perdido. À chegada ao Boonsiri Place Hotel (muito bem localizado) pudemos constatar de imediato a serenidade da cultura Thai reflectida nas linhas direitas e sóbrias da própria arquitectura e decoração do quarto. Um verdadeiro prazer para os olhos e para a alma. Bangkok é uma vibrante cidade de 7 milhões de habitantes onde se misturam o tradicional com o mais moderno de toda a Ásia. Tem o movimento caótico de qualquer grande cidade asiática mas tem espaços muito mais calmos que nos permitem uma abordagem tranquila a esta cultura.


































A cidade é praticamente plana e atravessada pelo rio Chao Phraya e pelos milhentos canais e afluentes. Estes canais e o próprio rio juntamente com os seus barcos-bus tornam-se numa excelente opção para que nos possamos deslocar mais rapidamente e fugir ao trânsito intenso que pode ser demorado em muitas horas do dia. Outra opção poderá ser a utilização dos pequenos e barulhentos tuk-tuk que serpenteiam por entre os carros e autocarros, por vezes de modo algo assustador e que elevam o nivel de adrenalina. Pode ser confuso e stressante mas acreditem que é um autêntico mar de tranquilidade quando comparado com o caos das cidades indianas. Aqui devem sempre negociar o preço antes de subir para evitar alguns “abusos” e devem tentar recusar os muitos convites que alguns “pseudo-guias” vos possam fazer dizendo que vos mostrarão a cidade. A menos que tenham mesmo muito pouco tempo, podem explorar a cidade facilmente por vossa conta com a ajuda de um Lonely Planet ou American Express. Por acaso até fizemos um bom negócio com um pseudo-guia de tuk-tuk que nos levou a 3-4 templos a um preço quase irrisório de 3 euros por 4 horas mas há que recusar que nos levem a alguma agência de turismo pois algumas nem são credenciadas, ou ainda a uma série de lojas sem interesse onde eles próprios têm uma comissão. Como qualquer outro tipo de país deste género temos SEMPRE que saber ou ter uma ideia definida para onde vamos e os locais que queremos visitar para evitar dissabores e mesmo perdas de tempo. Para tal devemos vincar SEMPRE a nossa posição e a nossa intenção e tentar faze-lo de uma maneira cordial e simpática, com um sorriso nos lábios mesmo que estejamos a perder a paciência. Quando estamos num país tão diferente do nosso, esta regra é fundamental para conseguirmos resolver mais rapidamente todas as situações que nos se deparam. Acreditem que daí a 10-15 minutos já estarão a gozar de um momento ou local lindíssimo que vos vai fazer esquecer qualquer stress anterior.































Em Bangkok muitos são os locais de interesse a visitar e como tal 4-5 dias são necessários. Temos: o Grande Palácio e Wat Phra Kaeo, ricamente decorado com os seus dourados e as figuras míticas absolutamente encantadoras; o Wat Pho e o seu gigantesco Buda Reclinado; o caos e agitação do Bairro Chinês que nos transporta momentaneamente para uma qualquer cidade chinesa; Patpong - o bairro do sexo perfeitamente seguro na sua rua principal que tem também um excelente mercado nocturno; o Wat Arun, um antigo templo hindu-budista que permite uma bela vista sobre a cidade; as revigorantes e obrigatórias massagens tailandesas (escolham sempre as casas mais movimentadas das zonas turísticas ou os distintos institutos credenciados e mais populares); o enorme mercado de Chatuchak que se realiza todos os sábado e sem duvida um dos maiores e mais variados do mundo (é um dia inteiro e não vemos tudo); o mercado flutuante de Damnoen Saduak, menos turístico, é muito interessante e uma experiência imperdível ainda que fique quase a 100kms de bangkok mas através de uma agência contratada na Khao San Road pode ser visitada numa excursão de meio-dia (1.200 baht por 2 pessoas. As outras propostas de um dia inteiro para parques de cobras ou crocodilos não são tão interessantes).



































Cambodja
Em Bangkok, numa das muitas agências de turismo das ruas mais turísticas, contratámos uma agência para a nossa rápida incursão ao Cambodja. O preço de 3.200 baht/pessoa incluíam visto, viagem de carrinha de 9 lugares moderna até à fronteira e depois da fronteira até Siem Reap no Cambodja e estadia de 2 noites nessa cidade, e depois todo o regresso até Bangkok. Bom… aqui e pela 1ª vez fomos realmente enganados pois tínhamos os vistos e realmente levaram-nos até à fronteira com o Cambodja mas aí… largaram-nos à nossa sorte sem guias nem transporte. Tivemos que esperar 3 horas por um velho autocarro local a cair de podre, sem quaisquer condições e numa viagem que durou umas 7 horas para fazer apenas 200kms pois com a chuva e o mau estado do piso trata-se da pior estrada principal de acesso a uma capital de todo o sul da Ásia. Ao nível do pior que já passei na Índia. Mas até dava para rir por entre os saltos no banco duro do autocarro e por entre o furo e outras peripécias. Uma incrível aventura!


















Neste caso acho que a viagem de avião desde Bangkok é mesmo a melhor opção por várias razões incluindo a poupança de tempo. Mas as peripécias não se ficavam por aqui pois quando chegámos a Siem Reap e fomos ao hotel contratado, este era realmente mau… muito mau e eu já dormi em sítios verdadeiramente beras. Eram cerca de 11h da noite e … mais uma discussão com o dono do hotel e um pseudo-guia que era o contacto da agência no Cambodja. Andámos mais 1-2 horas à procura de um hotel mais digno e com algum custo lá encontrámos a pagar do nosso bolso.
Mas o dia seguinte ia repentinamente aniquilar todo este stress e confusão do dia anterior pois estávamos prestes a visitar o Inigualável: Angkor Wat. Por 10-15 dólares contratámos um tuk-tuk para andar connosco todo o dia pois o complexo fica a alguns kms da cidade e entre os edifícios do próprio complexo as distâncias são um pouco longas para serem percorridas só a pé! O bilhete adquire-se na entrada e custa 20 dólares por 1 dia inteiro. Se chegarmos bem cedo e usando um tuk-tuk, 1 dia acaba por chegar para ver e aproveitar o belo Angkor.
Angkor Wat é um complexo imenso, vestígio de uma grande cidade do povo Khmer com todos os seus edifícios públicos e religiosos do sec. XIII.















O povo Khmer liderado pelo rei Suryavaman II era muito poderoso e evoluído para a época e expandiu o seu domínio e império pelos territórios que hoje formam o Cambodja, Laos, Vietname, Birmânia. Para marcar esse poder e domínio este ambicioso rei mandou erguer naquela zona pantanosa e fértil, aquele que é o maior complexo religioso do mundo. Começou por ser um grande templo hindu mas com as muitas transições ao longo dos séculos já foi budista e outras religiões menos conhecidas. Angkor Wat está divinalmente decorado com milhões de esculturas nas suas extensas paredes retratando episódios míticos, religiosos ou feitos históricos do seu povo. O detalhe e perfeição são tais que ficamos hipnotizados com esta riqueza. Creio que nenhum povo naquela altura estava ao nível desta perfeição e riqueza artística. Este enorme complexo histórico é, para mim, uma das verdadeiras maravilhas do Mundo e a mais bela que já vi até hoje!



















































Ficámos 2 noites em Siem Reap mas o ideal é ficar mais 1-2 noites e explorar as redondezas. Na cidade também é interessante visitar e fazer umas compras no típico mercado local. De regresso a Bangkok retomámos o stress pois a viagem que tinhamos pago de regresso, como era de esperar, não era válida logo tivemos que enfrentar a fila e quase lutar por 2 lugares no velho autocarro. Demorámos mais de 3 horas para sair da cidade e depois mais umas horas até a fronteira.



















Chegados a Bangkok fui reclamar com a agência ameaçando que chamava a polícia e apresentava queixa no instituto do turismo. Com alguma discussão e telefonemas lá me devolveram parte do dinheiro argumentando que teria sido a congénere agência do Cambodja que tinha falhado. Um conselho importante é definir muito bem o trajecto, os sítios onde ficam, a qualidade dos mesmos e principalmente levar vários contactos da agência e ainda ficar sempre com um duplicado da factura da excursão onde esteja escrito todos os pormenores. Mesmo que quando estejam a mostrar a factura num dos autocarros não lhes dêem a única factura para a mão pois podem precisar dela para comprovar os serviços seguintes. Se tiverem que pagar algo adicional que estava inicialmente pago guardem os talões e facturas para poderem exigir a restituição do dinheiro.
De novo em Bangkok rumámos a norte para a antiga capital Ayutthaya a cerca de 150kms. Fomos de comboio numa viagem tranquila e relativamente rápida. Em Ayutthaya é muito fácil encontrar um albergue ou ghest-house simpático e confortável. Nós ficámos na Chantana House. A cidade está repleta de antigas ruínas da antiga capital do país durante o sec. XV guardadas por inúmeros budas sentados, deitados, reclinados.
















Alguns dos templos são muito interessantes outros demasiado degradados. Dá para explorar a cidade tranquilamente a pé ou de bicicleta alugada pois é praticamente plana e até dá para fazer pequenas viagens no dorso de um elefante.
































De Ayutthaya fomos de comboio, numa viagem de um dia, até PakChong para visitar o parque natural de Khao Yai, um dos maiores do país. Nesta cidade é complicado encontrar a carrinha de caixa aberta que nos leva até à porta do parque. Normalmente esta carrinha situa-se na esquina da loja de conveniência do Seven Eleven. O Parque de Khao Yai é pura selva com todo o tipo de bicharada (aves exuberantes, cobras, macacos, elefantes, lagartos, escorpiões, tigres, gamos, búfalos, sanguessugas, etc) logo convém contratar um guia no próprio parque para um tour de 2-3 horas e comprar uns acrescentos de pernas onde os bichos não conseguem tocar na perna directamente.




































Com os guias estamos relativamente seguros pois eles sabem lidar com os vários tipos de animais e plantas. A possibilidade de ver tigres é muito remota e ver elefantes selvagens também é complicado mas a diversidade de outros animais, a exuberância da flora da selva e todos os seus barulhos já compensam. Foi uma experiência incrível para mim e menos entusiasmante para a Ana que ficou na sede do parque a aguardar (porque será??). Para regressar à cidade é só ir até à entrada do parque e mandar parar uma das carrinhas de caixa aberta que servem de autocarros locais e que por um preço irrisório param em todo o lado. É perfeitamente seguro pois vamos com as pessoas normais locais que vão para a escola ou para os seus empregos.
Outro dos pontos interessantes indicados pelos guias é o templo dos tigres, onde monges budistas recolhem tigres feridos ou órfãos e tratam deles como se fossem gatos mansinhos. Em Ayutthaya estivemos somente 2 noites e comprámos aqui a viagem de autocarro desde Bangkok para as praias do Sul e já incluindo a viagem de barco para a ilha paradisíaca de Kho Phangan.

Ilhas do sul
Fomos de comboio até Bangkok e depois de autocarro até Naton/Shuri Thani onde fomos de catamarã até ao nosso destino – Kho Phangan. Queríamos uma ilha pouco turística para podermos descansar a preços mais acessíveis e sem confusões. Kho Samui e Kho Phangan são boas opções. As águas são cristalinas, quentes, as areias brancas e finas, as palmeiras e coqueiros fornecem a sombra e dispõe de uma fantástica diversidade sub-aquática de corais onde podemos fazer snorkeling sem sequer alugar barcos ou outros equipamentos. É só mergulhar com uns simples óculos e tentar não pisar os recifes. Escolhemos a praia de Haad-Yao mais a norte da ilha e antes de chegar a Ko Ma.





















Ficámos nuns bungalows muito recentes a 100 mt da praia (Shiralea Resort Bungalows), muito tranquilos, asseados, com WC, água quente, com piscina, sem ar condicionado mas uma suficiente ventoinha, uma cama de rede no alpendre, sem pequeno almoço (é normal fazerem sem pequeno almoço mas este é baratíssimo), e isto tudo por… cerca de 12 euros dia/bungalow. O paraíso a preço da chuva! Ahhh… e chuva apanhámos apenas no ultimo dia e durante a noite, pois os restantes dias foram muito quentes e a própria água do mar é muito agradável. Junto aos bungalows dispúnhamos de cerca de 8 restaurantes e como tal não necessitávamos de nos deslocar muito para uma barata refeição numa mesa em plena areia junto à água, com os pés no mar… delicioso!



















Ficámos 6 noites nesta praia e acabámos por não visitar mais ilhas pois achámos que esta tinha tudo o que procurávamos principalmente o descanso e a paz. Para quebrar um pouco esta aborrecida vida de praia, massagens, cocktails debaixo da palmeira e mergulho alugámos uma moto por 2 dias e demos umas voltas completas à ilha onde visitámos outras praias, umas quedas de água e demos um passeio num dos típicos barcos em Ko Ma (alugado na praia de pescadores mesmo antes desta conhecida praia) e que durante 2 horas nos mostrou outros recantos deste mar maravilhoso e nos permitiu fazer snorkeling noutro local bem conhecido para o efeito. Para quem faça mergulho é possível fazer tours para poder ver o grande mas pacifico tubarão baleia e poder tocar-lhe.



















Após todo este merecido descanso e para nossa tristeza, lá tinhamos que regressar à realidade. Desta feita fomos de catamarã até Shura Tahni e daí fomos de comboio até Bangkok durante a noite. É mais demorado mas deu para dormir bastante na viagem. De Bangkok voámos até Amesterdão e daí para Lisboa.
Foram mais umas excelentes férias num país muito simpático e preparado para receber o turista. Desta feita conseguimos aliar a aventura da mochila nas costas, a exploração da história e cultura tailandesas, a exploração do majestoso Angkor Wat com o descanso e a tranquilidade de uns bons dias nas praias paradisíacas do sul da Tailândia. São umas férias altamente recomendáveis, principalmente para os recém aventureiros nestas andanças dos países asiáticos.

sábado, 13 de junho de 2009

Marrocos II (Abril 2009)

De volta a Marrocos… era inevitável pois é um país muito interessante, diversificado e aqui tão perto!
O sistema foi o mesmo: malas no carro, direito a Algeciras, passar o ferry para Ceuta e fazer toda a viagem de carro em solo marroquino. Mas desta vez optei pelo interior e não tanto pela costa. E optei muito bem pois o interior é muito mais característico e preservado, com muitos e variados pontos de interesse. Saímos de Samora Correia perto das 4 h da manha e apanhámos o ferry para Ceuta às 10:30 (comprámos o bilhete no site da ferries Acciona ou directferries e quando chegámos foi mais fácil pois é só dizer aos orientadores que já temos bilhete e vamos logo para o embarque).
O problema foi mesmo na fronteira para entrar em Marrocos. Era 6ª feira santa e a quantidade de turistas (franceses e espanhóis) era assustadora. Ignorem os aproveitadores que vão surgindo a dizer que facilitam o processo. Um de nós fica ao volante e outro vai a pé aos guichets pedir 1º o formulário para as pessoas e depois para o carro. A demora e ineficiência são enervantes e na confusão daquele dia custou-nos 2 horas e algumas irritações. Vão preparados e sempre à espera destas “chatices”. Já do outro lado verifiquei que as coisas estavam mais desenvolvidas e as estradas bem melhores e sinalizadas. Passámos em Tetouan (nada interessante) e rumámos até Chefchouan para ficar uma noite. Esta vila é muito bonita e turística, com as suas casas caiadas de branco e azul e as suas ruas estreitas. É sem dúvida o local ideal para o primeiro ambientar com Marrocos pois o restante país pode causar algum choque a quem nunca visitou um destes países com uma cultura tão diferente e bem mais pobre que a Europa.




















Há que ignorar os pseudo-guias que vão surgindo em motos ou a pé indicando um hotel ou uma loja para visitar. Não é que seja perigoso ou que nos vão fazer mal ou roubar mas normalmente os locais apontados não são os melhores e eles só querem ganhar algum. Por acaso quando cheguei a esta cidade não tinha hotel marcado e os que levava apontados estavam todos cheios e tive mesmo que recorrer a um destes “guias”, que acabou por me safar. Ficámos no Hotel Rif por um preço acessível de 25 euros o quarto. O dono queria ficar com os nossos passaportes durante a estadia mas negámos sempre pois além de ser o documento mais importante e necessário para poderes sair do país, poderiam ser alvo de falsificações… nem que paguem o quarto em adiantado mas nunca se separem deles! Nesse dia ainda deu para percorrer grande parte das ruelas e jantar num dos muitos restaurantes da praça central junto à muralha.




















No dia seguinte pela manhã seguimos para Fez. Pelo caminho passámos por uma aldeia onde decorria um mercado local e não hesitámos em parar e visitar. São excelentes oportunidades para contactar com as pessoas e o modo de vida local.
Já em Fez foi de novo bastante difícil encontrar um hotel vago e acabámos por pagar cerca de 40 euros/noite. Fez é como que uma antiga capital cultural de Marrocos pois é verdadeiramente antiga mas muito rica a nível cultural. A sua Medina (zona comercial de ruas estreitas) é das mais antigas do mundo árabe e parece que caminhamos na eritreia ou na antiga Jerusalém.
















No entanto é um autêntico labirinto e só se tivermos todo o dia disponível podemos arriscar sozinhos pelas ruelas estreitas, ainda que nunca nos devemos afastar das ruas mais movimentadas. Caso não estejamos tão à vontade ou com menos tempo que o necessário devemos contratar um guia no próprio hotel. Mesmo que seja um pouco mais caro pelo menos podemos pedir satisfações se não gostarmos do serviço. No nosso caso contratámos um guia na rua e foi péssimo pois a meio passou-nos para outro tipo mais velho que corria desenfreado pelas ruas, sem tempo para apreciarmos a Medina, não explicou nada e só estava interessado em que fossemos jantar ao seu restaurante (que por acaso era bom mas caríssimo). São muitos os artífices e artesãos em Fez. Fomos ainda a um terraço mesmo no centro da Medina, para podermos ver as tinturarias (Alcaçarias) das peles e os seus famosos tanques de várias cores como chegou a mostrar numa novela brasileira muito famosa. Atenção que o cheiro é muito forte e desagradável.

Visitámos também uma fabrica de cerâmica onde a variedade e qualidade são elevadas mas os preços são muito superiores aos preços do mercado de rua. Não compensa muito! Fomos ainda ao cimo da colina nos arredores com o seu castelo e os túmulos merinidas onde pudemos apreciar a vista sobre a cidade e sacar umas boas fotos. Destaque ainda para o museu de armas, o museu Dar el-Batha e as Medersas.
De Fez partimos ainda mais para o interior, direitos ao deserto (o percurso foi Ifrane, Azrou, Midelt, Er-Rachidia, ErFoud, Mezouga). A paisagem que vamos atravessando é lindíssima, com os seus desfiladeiros áridos e com os oásis refrescantes que vão acompanhando os rios ao longo do caminho. As pequenas localidades que vão surgindo são encantadoras, aldeias do deserto com as ruas barrentas e Kasbahs imponentes. O modo de vida é do mais simples que podemos imaginar, as pessoas vivem da agricultura e da criação dos animais. O burro ainda é um dos meios de transporte e carga mais utilizados.


















As estradas são boas, mesmo estas vias do interior quase desértico. Cuidado apenas para alguns grandes buracos que surgem de repente e podem causar danos graves no carro. Pelo caminho também é relativamente fácil encontrarmos bombas de abastecimento mas é importante ter sempre o depósito cheio. De relembrar que, no Inverno, algumas destas estradas podem estar intransitáveis devido a chuvas ou mesmo neve nas zonas mais altas.
Para as refeições levámos uma geleira, enlatados e queijo e fazíamos uns pic-nics nos oásis pois cafés, mercados, restaurantes são praticamente inexistentes pelo caminho. É preciso algum cuidado pois debaixo de uma pedra encontrámos um grande escorpião. Grande susto!















Ao jantar estávamos normalmente em locais mais movimentados e existem sempre muitos restaurantes. A cozinha não é muito variada e resume-se muito ao couscous (como um bom cozido à portuguesa mas com uma massa granulada), as tagines de frango (um refogado saboroso cozinhado num tipico recipiente de barro) ou as bruchettes (pequenas espetadas grelhadas sem grandes molhos ou temperos). Nos locais mais turísticos até podemos comer uma pizza, um bife, massa ou hamburguer.















Chegados a Merzuga, as ofertas de alojamento são muitas e de vários preços. Entrámos na vila e fizemos a estrada até ao fim sem voltar para qualquer lado. Esta estrada termina no próprio deserto, e mesmo a “beijar” as dunas temos 2 hotéis: o da direita é mais simples com WC compartilhado, o da esquerda é muito recente, moderno, limpo e simpático. Tem um pátio interior muito giro e tradicional onde tomamos as nossas refeições e um terraço onde podemos beber um chá, contemplar o incrível céu estrelado e ouvir um conjunto de músicos berberes. Um verdadeiro achado pois não passava os 30 euros por noite. Partindo de Erfoud, Merzuga é ultima aldeia antes de entrarmos no “puro” deserto e é óptima para explorar os seus trilhos.






















Podemos também fazer um passeio de camelo de 3 horas (10 euros/pessoa) pelas dunas, um dia inteiro ou ainda uma mini-expedição de 2 dias e uma noite a dormir em tendas em pleno deserto.





























No dia seguinte partimos para Marraquexe. É preciso ir quase de madrugada se queremos chegar no próprio dia. A paisagem continua fantástica e até é fácil avistar camelos a atravessar as extensas planícies. Pelo caminho parámos num pequeno Kasbah, residência fortificada com pátio central, com local para guardar o gado e vários quartos para toda a família. Com muita calma convencemos os moradores a poder entrar e poder fotografar. Como agradecimento oferecemos alguns brinquedos que tínhamos levado, umas bolachas e uma t-shirt.



























Ainda antes de chegar a Marraquexe não podemos perder uma visita à aldeia de Ait-Benhaddou (Património Mundial da Unesco). Esta aldeia já apareceu em alguns filmes e está muito bem conservada. É toda em barro e as suas ruas estreitas escondem muitas surpresas e muitos pormenores interessantes. Não é preciso guia para visitar a aldeia e basta deixar o carro na pequena localidade do outro lado do rio (há várias hipóteses de alojamento aqui e também há Ouazarzate que fica a cerca de 15-20 kms). Normalmente este rio é muito baixo e com pouca corrente e podemos atravessá-lo a pé. Existem alguns nativos bastante chatos a tentar ajudar, em troca de dinheiro, claro! Há que recusar educadamente, prosseguir caminho e não dar muita conversa.





























O restante caminho que falta até Marraquexe é muito duro. São cerca de 150kms mas com muitas curvas apertadas para podermos atravessar as sinuosas montanhas. A meio do caminho passamos pelo desfiladeiro de Tizi-n-Tichka, que é de cortar a respiração!
Já na grande cidade de Marraquexe, arranjar alojamento não é tão fácil! Os bons hotéis estão essencialmente nas avenidas novas (p.ex. Ave. Mohammed V) mas não são nada baratos para o país (acima de 50-60 euros um hotel de 3 estrelas). Junto à Praça Jemaa el-Fna e à Medina temos mais hotéis, mais baratos mas mais antigos e alguns sem grandes condições. Os pontos de interesse de Marraquexe são os mais que conhecidos e apresentados em qualquer guia: Praça Jemaa el-Fna, Mesquita Koutoubia, a Medina, o Bairro Judeu, a Medersa Ben Youssef, o Museu de Marraquexe, etc. Estes 2 ultimos valem bem a visita pois ajudam-nos a compreender melhor a cidade, a sua história e mesmo o resto do país. O ex-libris da cidade é sem duvida a Praça Jemma el-Fna. Mais turística e menos natural que outros tempos ainda é um ponto de convergência das várias culturas do deserto sub-sahariano e povos berberes. Vende-se de tudo nos mercados e bancas circundantes, até dentaduras postiças e dentes usados!!! Temos ainda os encantadores de serpentes, os aguadeiros, as videntes, os faquires, os macacos amestrados. É óbvio que vão sempre extorquir-nos algum dinheiro, nem que seja só pela foto e é muito importante não perder a noção de quando vale o dirham em euros. Também é preciso ter algum cuidado com carteiristas quando se encostam a nós com as suas manhas. De qualquer forma a praça até é bem vigiada e existem bastantes policias. À noite a praça ganha ainda mais vida e temos restaurantes “móveis” por todo lado bem como alguns artistas, comerciantes e outros. Há que subir a um dos terraços de um café ou bar circundante para poder contemplar convenientemente esta agitação ao mesmo tempo que toma um refrigerante ou um chá.






















































Em Marraquexe ficámos 3 noites. Depois prosseguimos até Rabat pela costa onde parámos somente para visitar a zona do palácio real (é necessário pedir autorização para entrar com o carro), as muralhas da cidade e o majestoso e opulento Mausoleu de Mohammed V.




































Percorrendo a boa auto-estrada junto à costa chegámos perto do final do dia a Asilah para aí pernoitarmos 2 noites. Asilah é uma vila puramente portuguesa a nível arquitectónico pois está entre muralhas construídas pelos portugueses com as suas casas caiadas de branco no seu interior. Há alguns hotéis acessíveis mas temos que procurar bem. Há também alguns bons restaurantes e até podemos comer um belo peixe fresco.












































O pequeno mercado de frutas, peixe e carne é outro local interessante para visitarmos e no Verão podemos desfrutar de algumas boas praias ali perto. Já no ultimo dia em terras marroquinas partimos bem cedo para fazermos a viagem toda de regresso de uma só vez até Portugal. Tínhamos o ferry perto das 12 h em Ceuta (mas podíamos ter comprado o regresso desde Tanger pois seria mais rápido já que estávamos bastante perto desta cidade). Ainda tive tempo para ser multado em 400 dihrams por excesso de velocidade... é preciso ter muita cautela e nas autoestradas existem bastantes radares e um estrangeiro é sempre presa facil. Existem vários mitos e histórias de que a policia marroquina "persegue" o turista sempre a tentar sacar algum dinheiro. Isto já não acontece actualmente pois eles sabem da importância do turismo e normalmente assim que vêm que o carro é estrangeiro mandam seguir e são bastante cordiais. Não tenho qualquer razão de queixa nas 2 viagens que fiz.
E assim vivemos uma bela aventura de 7 dias (cerca de 2.800 kms percorridos) neste belo país. Marrocos acaba por ser um el-dorado para o viajante português pois é um país muito diversificado, apresentado enormes montanhas, planícies desertas a perder de vista, uma bela costa, “puro”deserto, oásis, zonas com neve, boas oportunidades para compras e essencialmente uma cultura riquissima com um modo de vida ainda muito ancestral e intacto que funciona como uma autêntica maquina do tempo. E isto tudo… a cerca de 650kms de Lisboa!
É para mim, um destino de eleição que hei-de repetir mais vezes!